sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

COISA AMAR


Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

PONTA DA MADRUGADA


Hoje, casualmente, quando andava a arrumar uns livros para arranjar espaço para mais uns, passou-me pelas mãos o livro de crónicas "Um dia atrás do outro" de Laurinda Alves. Abrio-o e não resisti a ler de novo a primeira...tinha estado ali na Ponta da Madrugada mais do que uma vez... que saudades senti!


"Ali onde o sol nasce silencioso, inundando o mundo de uma luz púrpura e líquida, onde o mar permanece adormecido, onde a manhã se anuncia em cada dia como se fosse a primeira e onde tudo é tão perfeito e luminoso, apetece ficar para sempre.
Mudos e quietos como o mar àquela hora.
Apetece demorar naquela ponta da ilha onde os pássaros cruzam o céu em voos secretos, apenas denunciados pelo barulho acelarado das asas quando mudam de rumo. Apetece pairar como eles e ver aquele lugar de cima, a pique, numa vertigem de azul infinito, numa ilusão de paz eterna.
......................
Se calhar nunca mais volto a sentar-me no muro de pedra da Ponta da Madrugada, mas não faz mal, pois agora conheço um caminho seguro para lá voltar."

Laurinda Alves



Quem tem o privilégio de conhecer os Açores nunca mais os esquece. As belezas naturais são tantas que nunca mais se apagam da nossa memória.

Sorte minha. Eu estive lá.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

PENSAMENTO


"Alguns pensamentos são como orações. Em certas ocasiões, qualquer que seja a posição do corpo, a alma está de joelhos."


Victor Hugo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

BASTAVA-NOS AMAR.


Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar
pelo mar. Por um rio ou por uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

VOAR...


Acordar com desejos de voar...
Abrir as portas da gaiola
onde estou presa dentro de mim
e voar...

Não levar as penas,
apenas os sorrisos.
Infringir sinais vermelhos
e velocidades controladas por radar.

Levar o sonho,
a fantasia
e voar.

Maripa

domingo, 24 de fevereiro de 2008

ENCOSTEI-ME A TI


"Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.

Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí."

Cecília Meireles

SONHO-ME


Sonho-me
ouvindo música de Bach
envolta em sete véus.
Sete véus de cores diferentes
tecidos com fios de seda
e aroma doce a rosa chá.

Já noite
a mente despovoada de ais
os pensamentos sem o travo
de amêmdoa amarga
deslizo devagar
por uma rua larga
ao encontro do mar.

Nessa noite tão branca
despida de todos os véus,
despida de mim e vestida de luar
entro num barco à vela
e deixo-o naufragar.


Maripa

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

SAUDADES

Canto silêncios
e imagens
neste dia inventado
por ti
onde as palavras
se despem do tempo...


Com os silêncios construo
a neblina das manhãs
despidas
e o orvalho das noites
sem abrigo...

Com as imagens adorno
a solidão do tempo
onde se estende
o teu vulto imaginado...

No espasmo duma promessa
fica a doçura original
da minha
própria manhã...

António Sem

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

BILHETE


Não te sei dizer mais.
Depois de tantos versos,
Que te baste o silêncio
Dum poeta ardente,
Que sempre, naturalmente,
Foi além das palavras
Do amor, amando.
Que em cada beijo,
Selava os lábios que o nomeavam.
Que aprendeu a sofrer,
Que tudo acontecia
No acontecer.
Que, até na hora da evasão, sabia
Que a verdadeira vida vive-se a viver.

Miguel Torga