segunda-feira, 30 de junho de 2008

TU DISSESTE QUE VIRIAS...


Há uma janela onde me debruço
e te espreito.
Tu disseste que virias...
Que eu era a tua praia, o teu mar.
Era o porto onde querias ancorar.

E o meu olhar aguado
pela impaciência da espera
tenta enfeitar-se de flores...
Tu disseste que virias.

E a manhã fez-se tarde
e a tarde fez-se noite.
E, pouco a pouco,
tu não foste mais que um sopro...
O ruir duma quimera.

Maripa

sábado, 28 de junho de 2008

O VERBO NO INFINITO



Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor: nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...


Vinicius de Moraes
Imagem: " O enigma do Infinito" de S. Dali

sexta-feira, 27 de junho de 2008

À RODA DO JOÃO MARIA


VAMOS AJUDAR

Podemos fazer a diferença divulgando e passando a mensagem,colocando um post com o texto abaixo indicado e a imagem num local vísivel e com o título: À roda do Joâo Maria.

O João Maria tem 21 anos e é pintor. Neste momento tem cataratas e por isso necessita ser operado aos olhos. Mas a Médis informou que o seguro não cobre esta operação pois o João tem um cromossoma 21 a mais...Inacreditável, não é? Obriguemos a Médis a fazer o que é correcto, enviando uma reclamação para o seguinte mail:

Podem visitar o blog do João Maria aqui

Esta mensagem trouxe-a da Casa de Maio onde a Maria está sempre atenta.

LÍRIO QUE CHORA

Num jardim de flores encantadas
há um lírio que chora por amor...

No fulgor da sua brancura acetinada
sonha um deus a pintá-lo doutra cor.

E à luz de um novo amanhecer
pintado de tom primoroso e raro
um prometido amor vai renascer.

E o lírio deixa de chorar...

Maripa
Imagem de David Rabinowitz

quarta-feira, 25 de junho de 2008

DUST IN THE WIND





DUST IN THE WIND CANTA SARAH BRIGHTMAN

you tube from oceanflower2008



terça-feira, 24 de junho de 2008

ONTEM É UMA ÁRVORE...


Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro então interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...



Pablo Neruda

Texto do livro " Nasci para Nascer"
Imagem da net

domingo, 22 de junho de 2008

OH ! DEIXAI A MENINA SONHAR ...

Oh ! Deixai a menina sonhar...
Nascida à beira - rio
o seu destino só pode ser o mar !

Oh ! Deixai a menina navegar,
galgar as ondas do oceano imaginado
e na caravela levar sonhos de cristal
envoltos na maresia
de cada dia...
Deixai-a percorrer o convés
de lés a lés,
comandar a tripulação
que só ela vê
com o coração...

Se "tudo vale a pena"
para quê deixar morrer
os sonhos da menina
que teima em não crescer?

Maripa

Imagem da net

sábado, 21 de junho de 2008

VAZIO

Todo o mar nos meus olhos, e não basta!
Enche-os mais uma lágrima furtiva...
Neste banquete azul, há um só conviva
farto e feliz.
É o céu, que se debruça sobre as ondas
sem amargura.
É ele, que não procura
por detrás da verdade outra verdade.
Serenamente, lá da eternidade,
bebe e come
a imagem reflectida do seu nome.

Poema de Miguel Torga

terça-feira, 17 de junho de 2008

SOMEWHERE OVER THE RAINBOW



you tube from toingks

Somewhere over the rainbow - What a wonderful world

Canta Israel Kamakawiwo'ole ( 1959 - 1997)

Muitas pessoas, tal como eu, não sabem quem canta esta música. Na versão original do "Feiticeiro de Oz" era cantada por Judy Garland. Aqui, ouvimo-la na voz de IZ ( Israel Kamakawiwo'ole ), um jovem cantor havaiano que nas suas composições demonstrava um enorme amor pela sua cultura e raízes porque era um puro nativo. O albúm Facing the Future (1993) composto por músicas maravilhosas em que apenas se ouve a sua voz e o som do seu ukelele, projecta-o para a fama merecida. Infelizmente, sofrendo de obesidade mórbida, começa a ter graves problemas de saúde e morre com apenas 38 anos.

Voz lindíssima, vale a pena escutar.

Não é sem razão que este you tube tem perto de 9.400.000 visitas !

segunda-feira, 16 de junho de 2008

...UM BÚZIO

Imagem da net

No silêncio do peito
guardo um cofre de palavras
a quem dou asas para voar.

Nas mãos enrugadas
enovelo o fio
que entrelaça o tempo.

Nos olhos cansados
arrecado poeiras fugidas
de estrelas cadentes.

E porque é mês de noites longas
encosto um búzio ao meu ouvido.

Escutando o mar espero o amanhecer.

Maripa

sábado, 14 de junho de 2008

O PEIXAR DO TEMPO


Imagem da net

"Estanquei as pernas , sacudi a cabeça. Tudo aquilo me surgia sem a devida realidade. O avô, por exemplo, segurava uma cana de pesca. O fio pequeno e o anzol ficavam suspensos a uns palmos do chão. Pescava no ar. Haveria, dizia ele, sempre um peixe que não saberia separar as águas. O avô, mais os seus ditos. Enquanto fingia pescar, os olhos fixavam um inexistente horizonte. Pensava no nascimento da bezerra?

Recordei os tempos em que, todos os domingos, ele me levava à pesca. Sem conversa, nos quedávamos na margem enquanto olhávamos o rio e suas eternidades. Pescar é um modo de ser peixe nas águas do tempo.

- Pescar é muito bom. E sabe porquê? Porque é uma actividade sem nenhuma acção. Está entender,meu neto?

- Sim, avô.

- Você também gosta desta pescatez, não é?

Lá no alto, a águia pesqueira volteava. O avô dizia de um modo que soava assim:

- Olha a água pesqueira!

A água pesqueira, sim. Me aprazia pensar que era o rio, ele mesmo, quem pescava. O avô muito elogiava as sábias preguiças. Certa vez me tentou convencer de que o mundo andava tão ocupado a nada fazer que até o rio por vezes parava.

- O rio parado? Mas, avô, isso é coisa que nunca ninguém viu.

- Isso é porque o rio desata a mover-se assim que vê gente chegando.
Nesse jogo de enganos eu me embalava enquanto o mais-velho cantarolava como se espreguiçasse. E era sempre a mesma cantilena:

O rio,----------- Macio,

sem cio,-------- sem pio,

um fio.---------- um pavio.

Eu aguardava um só instante: o de desanzolar o peixe, o escorregadio corpo do bicho prateando em minhas mãos.

- Cuidado, não se pique!

Meu avô era o único que me dedicava cuidados. Nem meu pai nem minha mãe nunca me tinham lustrado em mimos. Por isso, mais que a chuva, me doía aquele definhamemento dele. Não é que, antes, ele não fosse já magro. Mas , agora, se extinguia a olhos vistos. Seu estado se precipitara desde que soube que o rio tinha secado. Nunca mais comeu, nunca mais bebeu. Aquela rejeição me causava estranheza. Afinal, o avô sempre dissera:

- A velhice não é uma idade, é uma decisão.

- Uma decisão?

- A velhice é uma desistência.

Desistido, meu avô cedera ao tempo. E agora, uma vez mais, eu interrompia a sua imaginária pescaria para lhe levar um copo de água. Mas o avô recusou, sorrindo:

- Não se afija, eu bebo como os pássaros, debico nas gotas.

Ajeitei a manta sobre as suas pernas que despontavam como galhos pontiagudos. Ele entendeu os meus cuidados e se explicou:

- Já vi o rio minguar, tantas vezes. Mas secar assim tão completamente é coisa que nunca eu podia imaginar. Diga, meu neto: você sabe quem é esse rio?

- Quem é o rio? - estranhei.

- Vou-lhe contar uma história, meu filho.

- Uma história com final feliz?

Eu já sabia: a única história com final feliz é aquela que não tem fim. Era assim que ele dizia. Desta vez, porém, o tom era outro, nem eu lhe reconhecia o pigarrear grave.

- Não é uma história. É um segredo que corre na família. Escute com atenção.

- Eu escuto sempre com toda a atenção.

- Não é isso. É que vai ouvir a minha voz, no princípio. Depois, já no fim,escutará apenas a voz da água, a palavra do rio.

Enquanto o avô ia revelando a lenda, eu me embalava como se, de novo, me entretivesse em pescarias."



Mia Couto

Texto do livro " A chuva pasmada"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

ENYA - CHINA ROSES



Do CD The Memory of trees ENYA canta China Roses


quinta-feira, 12 de junho de 2008

E AS HORAS...



E as horas lá se vão,
loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio
às horas todas,
pensar em ti...
Saber que tu existes.

Mario Quintana

quarta-feira, 11 de junho de 2008

NÃO SEI:::

Beauty Magnolia and Michael Nyman Music

Não sei,

não sei quantas palavras

trémulas, sussurradas,

rezei.

Não sei se na rua da memória

que em mim guardo,

a alma incendiada apaguei.

Sei,

que a neve nos meus cabelos derreteu

e, gota a gota, pelo rosto foi escorrendo

a lembrar as lágrimas doridas que sequei.

...............................

Sonhadora, espreito o sol,

e olho as belas magnólias floridas

que na árvore da vida plantei.


Maripa

terça-feira, 10 de junho de 2008

DIA DE PORTUGAL

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades


Imagem da net

Mudam-se os tempos...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é feito de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve),as saudades.

...............................................

Luís Vaz de Camões


quinta-feira, 5 de junho de 2008

INVENTO ESTRELAS

Imagem da net

Invento estrelas, desenho-as
dou-lhes nomes extravagantes
colo-as num céu azul-marinho
e sonho-as sempre cintilantes.

Extasio-me vendo-as brincar
com anjos vestidos de luar.

As minhas estrelas inventadas
não estão a anos-luz, não!

Posso até tocar-lhes com a mão.
E, em dias negros escolher
uma estrela incendiada
que me faça sair da escuridão.

Maripa

quarta-feira, 4 de junho de 2008

MULTIPLIQUEI-ME...

Imagem da net

Multipliquei-me, para me sentir.
Para me sentir,
precisei sentir tudo.
Transbordei,
não fiz senão extravasar-me.
Despi-me, entreguei-me.
E há em cada canto
da minha alma
um altar
a um deus diferente.

Fernando Pessoa

terça-feira, 3 de junho de 2008

CORES DO MUNDO





Couleurs du Monde

from Carine

FLORES

Foto de Francisca Rivera


Flores para colorir e perfumar os nossos dias.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

...MEU MAR...

Foto de Alexandr Zakoldaev

Desci ao fundo do meu mar.


Vi chagas no peito que nunca fecharam
e vazios nunca preenchidos.
Vi projectos de vida
mergulhados na escuridão.

Vi momentos em que meio perdida
nunca encontrei o caminho.
Vi anseios fervilhando no peito
- em dia de gaivotas no mar alto -
que nunca chegaram à praia.

Subindo à crista das ondas...
Vi pessoas que mesmo longe
nunca me abandonaram.

E os meus gritos mudos
- em dia de gaivotas em terra -
foram ouvidos para além do mar!



Maripa

domingo, 1 de junho de 2008

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA


" O melhor do mundo são as crianças."

Fernando Pessoa