terça-feira, 30 de dezembro de 2008

FELIZ ANO DE 2009



Imagem de Dmitry Kustanovich



É urgente que as glicínias floresçam
e pintem de cor o mundo vestido de negro...

Como podem florir na noite velada que as cobre?


Silenciosamente inclinadas
pedem numa suave prece:
não Te demores
porque o tempo é escasso.
Precisamos da Tua luz ,
do Teu regaço...

Precisamos de flores em todos os jardins
e do perfume da paz em todos os instantes
do dia que amanhece.


Maripa

E TUDO ERA POSSÍVEL



Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhâs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer


Ruy Belo

Imagem de Vlad Artazov

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

DIA DE ANOS


Pois... eu sou a Maria do Mar, a criança que vive escondida dentro da Maripa. Ela hoje faz anos e eu vou deixar-lhe um poema do João de Deus. Só vou alterar meia dúzia de palavrinhas...

Deixo uma flor e um beijo carinhoso para cada um de vós.


Dia de anos

Com que então caíu na asneira
De fazer na quinta-feira (segunda-feira)
Vinte e seis anos! Que tolo! (Setenta e quatro!)
Ainda se os desfizesse ...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo.

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo. Coitado!

Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que, em suma,
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!


João de Deus

Imagem da Net

sábado, 20 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS


NATAL


Um Deus à nossa medida...
A fé sempre apetecida
De ver nascer um menino
Divino
E habitual.
A transcendência à lareira
A receber da fogueira
Calor sobrenatural.


Miguel Torga

Imagem de Edna Feitosa

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

NÃO IMPORTA




Dentro dos teus olhos navego mar adentro...

Não importa
o tempo sem tempo da espera.
O tempo do derramar
flores para ondear nas águas.

Não importa.

Pétalas hão-de cair dos mastros
da caravela onde hei-de dormir
o sono-sonho despido de mágoas.

Importa sim
que mar adentro,
dentro dos teus olhos,
afogue os meus num sonho branco.

Sono-sonho, isento de pecado,
mar de devaneios inocentes
onde mergulhe
e floresça em espuma.
Sono-sonho,
praia bordada de amores-perfeitos
onde a maresia me perfuma.

Maripa

Imagem de Vladimir Kush

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

SÃO BORBOLETAS


São borboletas. Apenas borboletas
num ritual de dança pagã
a enfeitiçar flores.

São laços de cores,
brisas transparentes.

Pedaços de arco-íris
a chamar a Primavera.

Borboletas. Apenas borboletas
- asas de poema -
a bailar em dias quentes.

Maripa

Imagem de Dmitry Kustanovich

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PRECISO


Preciso que anoiteça
para desfolhar a rosa azul
que prendi ao peito.

Preciso de pétalas orvalhadas
de lágrimas e luar
a caír em maré mansa
sobre o lençol de linho
em que me deito.

Preciso do brilho das estrelas
nesta noite em desalinho.

E porque o mar é rosa em mim
preciso de ti no meu mar.

Maripa

Imagem da net

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PORQUE HOJE É DIA DE LEMBAR FLORBELA



Ser Poeta

Porque hoje é dia de lembrar Florbela Espanca ...

8 de Dezembro de 1894 - 8 de Dezembro de 1930

sábado, 6 de dezembro de 2008

NA LUZ A PRUMO



Se as mãos pudessem ( as tuas ,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos, e as minhas,
pudesse entrar no azul, qualquer
azul: o do mar,
o do céu, o da rasteirinha canção
de água corrente. E com elas subisse.
( A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama. Quase.


Eugénio de Andrade


Imagem de Rarindra Prakarsa

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

OS SONS DO PIANO



Porque os sons do piano
me aquecem a alma friorenta
deixo-me agasalhar em noites de mar aceso.

Nuvens de notas ritmadas
preenchem-me vazios
num crescendo de flores
e indolentes notas soltas...

Nestes acordes de fogo preso,
deixo a música incendiar o mar.

E os sons do piano, no sopro morno da noite,
alagam de marés as minhas horas
feitas de minutos, segundos
... e demoras.
Maripa

Imagem da net