sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

É NO FLORIR DAS ACÁCIAS






É no florir das acácias
que mora a alegria
das estátuas nuas.

Habitantes de jardins celestes
de árvores desfolhadas.

Corpos de pedra
- doados ao vento e ao tempo -
de sorriso lavado pela chuva
cansada de cair.

Olhos cegos na esperança
de ver acácias florir.


Maripa

Imagem da Net

SELO "SOBREVIVENTE AO ROMANTISMO"



Agradeço, com carinho, ao Carlos Barros do blogue http://irretorquívelpsique.blogspot.com/ que teve a gentileza de me nomear para o selo " Sobrevivente ao Romantismo".


Este prémio obedece às seguintes regras:

1. Exibir a imagem do selo.
2. Linkar o blogue que nos nomeou.
3.Escolher outros blogues a quem entregar o prémio.

Já exibi o selo, já linkei o blogue do Carlos... só me falta escolher outros blogues... Um pouco avessa a fazer nomeações , fica o selo para que outros "sobreviventes ao romantismo" o possam levar .

Bem-hajam !

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ÀS VEZES, EM DIAS DE CÉU AZUL



Às vezes, em dias de céu azul,

vejo barcos a partir no cais do tempo
- promessas de viagem fugidia -
e acenos de gaivota além do vento,

ouço nos búzios o longínquo mar
- ecos de saudade apaziguada -
e vejo praias banhadas de luar.

E às vezes
há o sonho...o sonho de ter
a voz das ondas e o riso das marés
de ser nereide e ter o mar...

Em dias de céu azul
- o sonho -
ser senhora do mar de lés a lés.

Maripa

imagem de D. Kustanovich

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

LEMBRO-ME


Lembro-me...

Tinha nos olhos o brilho da água doce
e no sorriso sumarento
o gosto dos morangos.

Escrevia cartas de amor,
cartas de amor
perfumadas de alfazema
e dançava
e cantava
a vida no embalo dum poema.

Lembro-me...
Como se hoje fosse.


Maripa

Imagem de V. Kush

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

PORQUE HOJE É DIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE

Eugénio de Andrade

19 de janeiro de 1923 - 13 de Junho de 2005

As palavras


São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:


barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.


Tecidas são de luz
e são a noite.

E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

BOM -DIA...



Bom-dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
-Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.
Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
- Ai! -suspirou a Menina do Mar olhando para a Terra. Porque é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.

Sophia de Mello Breyner

Excerto do livro " Menina do Mar"

Imagem de Romarina Passos

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

UMA A UMA



Uma a uma
gotas do luar de Janeiro
caem no livro aberto
onde vivem penas, águas-fortes,
e risos, sombras de aguarelas.

O livro ainda só vai a meio...

Fecho os olhos.
Sonho borboletas a nascer
dentro das letras.

Sonho gotas de luar
- não de Janeiro mas de Agosto -
a encher uma lua só p'ra elas.

O livro espera...

Preciso de sonho no meu sonhar!



Maripa

Imagem de Kuschelirmel

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

MADAME BUTTERFLY


Gosto de borboletas... em especial, da Madame Butterfly de Giacomo Puccini...

A ária "Un bel di vedremo" - numa curta animação da "L'Opera Imaginaire" -

é interpretada pela soprano Rebecca Knight e

a mezzo soprano Karen England da Opera Babes.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

FALA-ME DO MAR...




Senta-te ao meu lado...
Vem ver comigo os papagaios de papel
subir até ao céu das cassiopeias.

Fala-me do mar...
Das esquinas de luz nas águas de Neptuno,
dos recifes de coral,
do cântico das sereias.

Fala-me do ir e vir dos barcos,
do vento que levou os papagaios de papel
e não os trouxe mais.

Não me fales do horizonte que nos foge
nem dos tempos que estão para chegar.

Fala-me do mar...


Maripa

imagem de Norberto Martini

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

DIA DE REIS


Tela " Adoração dos Reis Magos" pintada por Giotto

Em certas regiões do País existe o costume de neste Dia de Reis, grupos de pessoas cantarem canções de Natal de porta em porta.

Em muitas aldeias esta tradição mantém-se viva, especialmente no Norte de Portugal. Nesta altura juntam-se os amigos que vão cantar as Janeiras a casa dos vizinhos. Antigamente recebiam castanhas, nozes, maçãs, filhoses, fumeiro e outros artigos que as pessoas possuíam.
No entanto, cantar as Janeiras ainda se faz um pouco por todo o País. As pessoas visitadas são normalmente muito receptivas aos cantores e aos votos que vêm trazer, dando-lhes algo e desejando a todos um Bom Ano.

Deixo o exemplo duma cantiga do Dia de Reis.


Aqui vimos , aqui vimos
Aqui vimos bem sabeis
Vimos dar as Boas Festas
E também cantar os Reis.
Nós somos as criancinhas
Que pedimos a cantar
Pedimos as Janeirinhas
E benção p'ra este lar.
Levante-se daí senhora
Desse banco de cortiça
Vanha nos dar as Janeiras
Ou morcela ou chouriça.
Levante-se daí senhora
Desse banquinho de prata
Venha nos dar as Janeiras
Que está um frio que mata.
As Janeiras são cantadas
Do Natal até aos Reis
Olhai lá por vossa casa
Se há coisa que nos deis.
Boas Festas,Boas Festas
Está a alba a arruçar
Venha-nos dar as Janeiras
Que temos muito para andar.
Obrigada minha senhora
Pela sua Janeirinha
P'ro ano cá estaremos
Nós e mais as criancinhas.
Quem diremos nós que viva
Na folhinha da giesta
Já lhe cantámos as Janeiras
Acabou a nossa festa.

domingo, 4 de janeiro de 2009

PORQUE TRAZIA FLORES DE ESPANTO NO CABELO


Porque trazia flores de espanto no cabelo
e na boca sequiosa bagos de romã
penduraste-te no meu olhar
que sorria ao ritmo de valsa.
E eu... Eu esperei por ti
mulher-criança
lambuzada de amoras
e... descalça.

No borbulhar do sonho
enchemos as mãos de flores acesas,
flores sem lume,
flores marinhas.


Nascem e morrem Primaveras
e tuas mãos ainda estão nas minhas.


Maripa

Imagem de Anke Merzbach

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

HORA A HORA



Quero escrever e as palavras fogem-me
brincam comigo às escondidas
viram-se do avesso
e soltam vogais
onde tropeço.


E hora a hora o mar fica mais longe.
A maresia não me afaga
e ao meu chamamento
só o eco responde.


Hora a hora a luz em mim
é sombra incerta e vaga.


As palavras, o mar e a luz,
encontro-os onde?


Quero escrever e as palavras fogem-me...

Maripa

Imagem da Net