segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SOBRE O POEMA


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
talvez ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.


Herberto Helder

Imagem de Josette Mercier

9 comentários:

  1. Um poema com vida!

    Um beijo carinhoso e um bela semana para o seu coração.

    ResponderEliminar
  2. Olá Maripa

    O poema está em nós!

    Não conhecia este belo poema. Obrigada pela partilha.

    Bjs.

    Lisa

    ResponderEliminar
  3. Um grande poema!

    Beijinhos, gostei muito.

    Clo

    ResponderEliminar
  4. Herberto Helder um nome sonante na poesia surreal portuguesa.

    eu não conhecia este poema.

    uma boa escolha!

    um beij

    ResponderEliminar
  5. . querida Maripa, .

    . sobre a "entrada" do Seu blogue, curvo.me - está magnífico .

    . bel.íssimo . parabéns .

    . sobre as palavras HHelder,,, ser assertivo no mais amplo conflito entre a alma e a carne .

    . "amei.de.amar" .

    . deixo um beijo abraçado e o desejo profundo de muita saúde para Si,,,

    . sempre,

    . paulo .

    ResponderEliminar
  6. mas também se faz de tempo e carne
    beijos doces em poesia

    ResponderEliminar
  7. mas também se faz de tempo e carne
    beijos doces em poesia

    ResponderEliminar
  8. *
    um poema
    é a lucidez das palavras,
    ,
    brisas serenas, deixo,
    ,
    *

    ResponderEliminar
  9. Um poema por vezes é espelho...

    Beijinho*

    ResponderEliminar


"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” disse Antoine de Saint-Exupéry.

Grata pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dar-me um pouco do seu tempo, deixando um pouco de si através da sua mensagem.