sábado, 30 de janeiro de 2010

OUVE


Ouve:
a máquina do tempo não pára
e o meu amanhecer é cada vez mais tarde...

Não ouves o canto do cisne
e o choro das pedrinhas da calçada?
Abre a janela e eu voo.
Tenho alma de pássaro, tenho frio, tenho penas,
tenho asas.

Vou seguir rumo ao país das andorinhas,
viver de feitiço e de magia nas tardias madrugadas.


Maripa

Imagem: Robert Bateman

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CONSTRUÇÕES




Prendo-me a uma coisa simples. Pode
ser o teu rosto naquele vidro, que eu vi
e não mais esqueci.

Faço do tempo um parapeito. E
debruço-me nele, à tua espera, sentindo
na madeira o calor do teu peito.

Ergo na areia um castelo de enigmas. E
fecho-te na tua torre, a castelã que me ensinou
a entrar sem saber por onde sair.

(Mas para que hei-de sair
de onde quero ficar?)


Nuno Júdice


Imagem: Kim Nelson

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A TRICANA, A PITANGUINHA E EU


A Tricana, a Pitanguinha e eu... no dia em que nos conhecemos, aqui na minha cidade. Amei conhecê-la. Se já tinhamos afectuosos laços virtuais, nesse dia a realidade, ternamente, aumentou esses laços.


A Tricana de Coimbra, sentada, com o cântaro pousado e as chinelas soltas pelo chão, parece descansar um pouco antes de voltar às suas lides, de levar água para vender na estação dos combóios, nas casas dos senhores ricos...Graciosa, de porte altivo, mulher de trabalho desafiando a vida.
Tricana que seduzia... ou se deixava seduzir pelos estudantes.


Estátua de bronze da autoria de Alves André, inaugurada em Dezembro de 2008 no larguinho que fica mais ou menos a meio da rua de Quebra Costas, bem pertinho da Sé Velha e do Arco de Almedina.


Obrigada,Pitanguinha, por esse dia e pela tua amizade.

Imagem: Outubro de 2009

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

FRUTO MADURO



Enquanto as rosas dormem eu
fruto maduro, casca enrugada
de contornos imprecisos,
sonho com o mar,
com o equinócio da primavera
a atingir o silêncio do jardim
e a fazer germinar os dias lisos.

Esqueço poemas de inverno
com flores de neve a derreter.

Enquanto as rosas dormem
esqueço que ao envelhecer perdi o medo de mim.


Maripa


Imagem: C. Ellger

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

SETE LUAS






Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.


Natália Correia

Imagem: Daniel Merriam

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

CHUVA






MARIZA canta " Chuva "


...porque gosto. E porque chove lá fora...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ERA O TEMPO ...




Era o tempo dos dedos ágeis,
das linhas brancas brancas e frágeis,
da luz acesa no tarde da noite,
do sono vagabundo, dono e senhor,do lume das horas.

Era o tempo de fantasias brancas raiadas de azul
a perseguir as manhãs.

Era o tempo de agulhas dançarinas
tecerem pontos cruzados,
em coreografias rendilhadas,
na inquietude do silêncio.

Era o tempo...


Maripa

Imagem: Airi Pung

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DEIXO-ME LEVAR...



Deixo-me levar... Piso o chão sem o ver.
Quase levito. Quase nem me sinto.
Sinto o aroma dos que foram para longe
e deixaram a pairar no ar o perfume
de açucenas e amores-perfeitos
de murmúrios incessantes
de esvoaçares de asas
de saudades.

Percorro, instante a instante,
a suave lonjura da ternura
e colho dos frutos o sabor inocente
da luz prometida.
Ouço o rumor dos passos a ecoar
pelos espaços vazios.

Deixo-me levar...
Um débil silêncio enrola-se no meu desencanto
enquanto as flores que desfolho devagar
caem em fio no arrepio da ausência.


Maripa


Imagem: Helen Breznik

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

OS LIVROS



Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
com nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.



Eugénio de Andrade

Imagem: Andre M. Barros



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

VAMOS "CANTAR OS REIS"


Aqui vimos, aqui vimos,
aqui vimos, bem sabeis!
Vimos dar as Boas Festas
e também "Cantar os Reis".

Já os reis aqui chegaram
com vontade de cantar,
se nos dão vossa licença
vamos já principiar.

Ó da casa, nobre gente,
escutai e ouvireis
a enfiada de cantigas
que se cantam pelos Reis.

Quem diremos nós que viva
no pézinho de cereja?
Aos senhores que aqui moram
largos anos se deseja.


Uma das canções populares que ainda se cantam [ou cantavam] em Dia de Reis.

Imagem : Net