sábado, 26 de março de 2011

AJUDA-ME



Ajuda-me. Este cansaço pesa nas palavras e eu não digo mais o sabor da alegria, o riso da manhã, o poder da montanha, o murmúrio das marés, o crepitar do amor em nossas mãos. Ajuda-me. A inclinação das ruas tornou-se insuportável e eu preciso subi-las para abraçar a memória da pele das rosas, do veludo do café, do abrigo das madeiras. Eu sei, as andorinhas voltarão ao recorte do telhado, o plátano será mais uma vez a capa do meu verão, saberei ainda adivinhar os barcos na transparência das casas, soltarei o riso na indecisão dos nevoeiros, na adolescência dos peixes vermelhos. Quero trepar a escada dos sonhos adiados, das promessas de pão, do brilho do oiro, da luz una e dividida, da paz, da paz. Não me deixa este cansaço de mil vidas no meu peito. Ajuda-me. Eu espero.



Licínia Quitério

Imagem : F. Rivera

1 comentário:


"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” disse Antoine de Saint-Exupéry.

Grata pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dar-me um pouco do seu tempo, deixando um pouco de si através da sua mensagem.