quinta-feira, 28 de julho de 2011

TÃO CÚMPLICES AS PALAVRAS



Às vezes vêm de muito longe:
de fatigadas viagens,
de mortes prematuras,
de excessivas solidões.
Mas vêm.
E trazem a inicial pureza das fontes.
E a lâmina do silêncio.
E a desordem da noite.
E a luz extenuada do olhar.
Tão cúmplices, as palavras.


Graça Pires 

Imagem da  net

terça-feira, 12 de julho de 2011

ACONTECE POESIA


Acontece poesia em ti
sempre que olhas,
afirmando uma vida pulsante,
magnífica,
como
o cintilar das Estrelas no céu,
o resplendor brilhante do Sol
nos teus doces
e meigos olhos. 


Acontece poesia em ti
sempre que ris,
criando umas curvas no rosto,
sensuais,
como
os campos de searas ao vento,
as ondas nas águas de um lago
ao sabor da quente
e harmoniosa aragem do Verão.


Acontece poesia em ti
sempre que andas,
alimentando o nascer de sentimentos,
sinceros,
como
o delicado desabrochar de uma flor,
o despontar do amanhecer da vida
no enternecido ser
do meu coração.


Assim,
quando
eternamente te penso,
te sinto,
te vivo,
por fim
acontece também
poesia em mim.


Vicente Ferreira da Silva

Imagem de Amanda Cass

sábado, 9 de julho de 2011

HOJE DÓI-ME PENSAR



Hoje dói-me pensar,
dói-me a mão com que escrevo,
dói-me a palavra que ontem disse
e também a que não disse,
dói-me o mundo.


Há dias que são como espaços preparados
para que tudo doa.


Só deus não me dói hoje.
Será porque ele não existe?


Roberto Juarroz

imagem da internet

terça-feira, 5 de julho de 2011

A NOITE POR TI DESPIDA




Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos
                              coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho. A noite 
por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo. 


Casimiro de Brito

Imagem de Ben Goossens

sábado, 2 de julho de 2011

AS HERAS TOCAM-ME





Quando fores ao sol
leva-me contigo. 
Quero pousar o rosto
sobre aquela montanha
para que o poente
aconteça nos meus olhos fechados
até ao outro dia de manhã.

Durante o sono inventarei
meu corpo de terra
meu sangue de sol
e um berlinde irisado
para matar a sede às andorinhas.

Vou criar um signo de pólen vivo
para levar às flores deste refúgio
onde só as heras compreendem as minhas mãos,
um signo de gestos inconformados
para fazer ternura,
outro de sons ousadamente despidos
para dizer: amigo.


Lucília Andrade

Imagem de Maggie Taylor