quarta-feira, 2 de maio de 2012

DÁ-ME DE BEBER...

Imagem: Kein Weissblum



Dá-me de beber em tuas mãos
uma nesga do céu
sem coares as nuvens... que passam.
Morde (se quiseres)
a romã entre a rosa e o amanhã.
Prisioneira de um mito
liberta-me (se quiseres)
na próxima primavera:
puxa-me as verdes tranças
arrebata-me do trono e de seu rei obscuro.
Leva-me (se quiseres) em teus braços
para onde fores e seremos primavera.
As primícias serão tuas:
as mais belas campânulas
tilintando ouro ao sol
prata sob a lua.
O que dizer do que seremos
se mudamos a cada gesto?
Dança pura.
Dá-me de beber em tuas mãos
uma nesga do céus
em coares as nuvens que passam.



Dora Ferreira da Silva




Imagem: Susan Gary