quinta-feira, 28 de junho de 2012

CHAMA


Imagem: Bimago




Numa voz muda, interior, chama.
Chamachamachama
e ninguém ouve.
Nem uma estrela se acende.

No fio da vida que (a)prende
-  gume de navalha -
o equilíbrio é difícil
sem o favor da chama
ou do sopro duma acendalha.

Meio louca sem ter perdido a razão,
esgueira-se, acende e apaga, reanima.
Dissimula, finge que não sente.

Simula um rito.

Em cima de si trovejam relâmpagos vindos do mar.
Ao leme desnorteia. No chão do barco
sinais de cristais de sal e maresias
temperadas com salva e limão
são o travo da inquietude dos dias.

Dias alongados, sofridos.
Ais de silêncio gravados no tronco
ensaiam libertar-se dos ramos
e dançam no voo de folhas de outono.

Dias alongados e um querer do coração
- morrer de pé como as árvores -

sem um grito.

Maripa







Imagem: José Lopes