terça-feira, 14 de agosto de 2012

SABÍAMOS DO MAR SEM O SABERMOS








Sabíamos do mar sem o sabermos,
do mar dos mapas, da cor azul do mar,
dos naufrágios no mar,
do sol solto no mar.

Sabíamos do mar sem o sentirmos
nos poros dilatados pelo mar,
o verdejante mar escalando as montanhas
tão bruscas como o sal.
Sabíamos do mar em sinuosos sinos
assinalando a noite
com corações arrepiados, 
abertos como mãos
sulcadas de cabelos e molhadas
de rugas e escamas.

Sabíamos do mar em signos, símbolos,
tropos e metáforas.
Sabíamos do mar?
Sabíamos o mar.
Sabíamos a mar.


António Rebordão Navarro

Imagens: Vladimir Volegov