quinta-feira, 8 de novembro de 2012

EU TRAGO A SABEDORIA DOS QUE ESCUTARAM SENTADOS


Imagem: Murat Korkmaz




Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados

Eu sou todas as estradas que nunca percorreste,
sou todos aqueles com quem nunca viveste,
sou a alfazema, o açafrão e as estepes do norte.
Eu sou a neve e também a espuma.
Sou o negro do carvão e o amarelo do trigo.
Trago um diamante no nariz e ouro na minha orelha.
Eu sou a paixão e também a morte.

Sou o canto profundo e a brisa quente da manhã.
Sou o desejo que te consome de madrugada
e o desejo que te desperta a meio da tarde.
Eu sou aquele que nunca pára.

Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados.
Trago o calor do mediterrâneo.
Eu sou a mistura das línguas e a língua universal,
molhada, intensa, imperceptível, perturbadora.
Eu sou o negro, mas também o calor do fogo.
Eu sou a suavidade de um pé descalço,
a pisar a terra macia,
sou a força de um salto a enfrentar-se na madeira.

Tenho muitos anos, muitas vidas.
E não sou tempo nenhum.


Alexandra Quadros







 
Imagem: Google