segunda-feira, 30 de abril de 2012







Inventa a eternidade na simples comoção de olhar uma estrela.
Basta que a olhes pela primeira vez, depois de a teres olhado inúmeras vezes. E, então, não precisarás de nenhum deus que te ponha a mão no ombro e diga estou aqui. Uma estrela espera-te desde toda a eternidade. Procura-a. E vê se não a perdes durante a vida inteira. A tua estrela pode não estar no céu. Põe-na lá.




Vergílio Ferreira

Imagem: Google






 

domingo, 29 de abril de 2012

ESTA NOITE O VENTO CEIFA OS BOSQUES






Esta noite o vento ceifa os bosques e
uma raiva sacode a terra. Se a voz
do mar chamasse pelas velas, os estreitos
aguardariam um naufrágio. E se dissesses
o meu nome eu morreria de amor.

Devo, por isso, afastar-me de ti - não
por ter medo de morrer (que é de já não
o ter que tenho medo), mas porque a chuva
que devora as esquinas é a única canção
que se ouve esta noite sobre o teu silêncio. 




Maria do Rosário Pedreira


Imagens: Google










quinta-feira, 26 de abril de 2012

BREVE POEMA MARÍTIMO





No remanso de
teus olhos
navego.

Na mansidão da tua
voz recrio memórias
de marés.

Na avidez de tuas
mãos recomeço todas
as travessias.

Mar e promontório,
barco e ancoradouro,
água marinha, neblina
e ventos,
armadilha de ondas em
aspereza de espumas,
teu corpo é calmaria
e tempestade neste
absurdo oceano
em que me afogo.



Carlos Alberto Jales

Imagens: Google





segunda-feira, 23 de abril de 2012

E AO ANOITECER






E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia



Al Berto









Imagens: Nika Toroptsova e Nora Teichert

domingo, 22 de abril de 2012




Nem a brisa das novas flores que em regato rutilante Botticelli põe nas mãos da Primavera, vogando no seu regaço... Só esta cascata de alegria inteira, e o que diz a dança das cordas, repete o cascadear do piano saltitante, anunciando o florescer da estação.


Luís Alves da Costa

Imagens: Google









sábado, 21 de abril de 2012

DUO MAIN TENANT



A poesia, a graça, a beleza, a harmonia...  e o poder da dança de 


Sheena Booth e Nicolas Besnard

terça-feira, 17 de abril de 2012

TALVEZ




Talvez
na ortografia do rosto pálido
as rugas ensinem os acertos
e desacertos do novelo da vida
talvez
a ortografia do olhar diga tudo
- ou quase tudo -
enquanto
a ortografia do sorriso em meia-lua triste
seja somente um erro [d]escrito na face.

O fio do tempo desliza
enlaça desenha deixa marca,
nas linhas ainda em branco,
palavras visíveis de amor.

E sempre que em mim mora o frio do vento norte
eu faça por não esquecer o tépido enlace
das nossas mãos e aqueça só de lembrar.

Talvez
por as glicínias estarem em flor
qualquer entardecer
seja de ternura e brisa
e algures
entre a memória e o espanto
haja gaivotas a poisar no azul do mar.


Maripa

Imagens: Google




segunda-feira, 16 de abril de 2012

AMOR É




Amor é
ver-te
chegar num eco de ave
e deixar que me prendas
com o teu jeito mais suave,
sentir-te só, ao pé de mim
e sentir-me tão só,
longe de ti...


Nuno Júdice

Imagem: Audrey Kawasaki

domingo, 15 de abril de 2012

DEDOS E DEDOS




voa comigo nos ombros da noite
enlaçados como dedos e dedos
na ternura completa das mãos.

inventemos asas até que nos
tenham como irmãos os pássaros
e as crianças nos persigam
pelo areal - que o voo é delas também.

acredita que o nosso olhar tocará um dia
o horizonte com tal força que a nossa palavra
ficará redonda, redonda como os ombros
desta noite em que te convido a descobrires
comigo o amor enorme que a maré nos tem

quando nos cobre os pés e nos obriga a nascer.





Vasco Gato

Imagem: Google

sábado, 14 de abril de 2012

UM DIA VOLTAREI À MORADA DAS PAPOILAS



Um dia voltarei à morada das papoilas
colher os versos vermelhos
que semeei na seara.

Um dia o vento estará maduro.


Albano Martins

Imagem: Philippe Sainte-Laudy

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A QUEDA




Sobrevive-se a tudo
ou quase tudo,
ao vento assobiando nos ciprestes,
à tempestade aquartelada
nos teus olhos,
às indecisões do teu corpo.
Tudo,
ou quase tudo,
apenas à queda da magnólia,
não.

Nunca nenhuma flor
sobreviveu.



Alexandra Malheiro

Imagem: Malena

domingo, 8 de abril de 2012

BORDADOS DE MIM





Sou assim...

Prosa e poesia
canto e lamento
alegria e solidão

rosa nascida nas pedras
ave de asas cortadas
vulcão que ainda fumega
chuva em pleno verão

Sou assim...

Metáfora bordada
nos versos do poema
que o tempo não apaga

Sou, enfim...
bordados de mim



Ariadna Garibaldi 

Imagem: Irene Alexeeva