terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HOJE




Hoje

três horas da tarde...

O sol, arredio faz tempo,
dá os ares da sua enorme graça e

invade de sorrisos-pétalas-abertas 
o garrido das flores
dos vasos na janela.

Enfeitaram-se-me os olhos
de luz e cor.

Logo

vou debruçar-me sobre a noite,
noite de lua cheia.

Peço ao grande luar
para entrar em mim e
apagar todas as sombras,
todos os meus medos.

Enfim...

Enfeites de luz e cor
e luar em mim 
serão instantes azuis
para guardar na caixinha dos segredos.


Maripa

Imagens: Google






FRUTOS E FLORES




Frutos e Flores

Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei 
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.

Marina Colasanti

Imagens: Google







quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

CHAMAMENTO


Imagem: Elena Dudina





Chamamento

Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece 
sem me alcançar.

Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido 
de impossível jasmim.

É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.

Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.

E a vida lateja, longe,
num outro lugar.

Luísa Dacosta




Imagem: Marcos Lameiras


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

NÃO TE ANALISES





Não te analises.

Não procures no perfume das flores
a tempestade das raízes.

Nem queiras
desatar o fumo
do carvão das fogueiras.

Ama
com ossos de cinza
e cabelos de chama.

E deixa-te viver 
em rio a correr...

José Gomes Ferreira

Imagens: Shanti Marie







sábado, 16 de fevereiro de 2013

NÃO TENHAS MEDO DO AMOR





Não tenhas medo do amor.

Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra
e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas
que ali estão a crescer: o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro e as campainhas azuis;
a menta perfumada para as infusões do verão
e a teia de raízes de um pequeno loureiro
que se organiza como uma rede de veias
na confusão de um corpo.
A vida nunca foi só inverno,
nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes:
pousa a tua mão devagar sobre o teu peito
e ouve o clamor da tempestade que faz ruir os muros:
explode no teu coração um amor-perfeito, 
será doce o seu pólen na corola de um beijo,
 não tenhas medo
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.


Maria  do Rosário Pedreira

Imagens: Michael Garmash







terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

RECORDARÁS TODAS AS PALAVRAS?



Imagem: Elena Avesta


Recordarás todas as palavras?


Um dia quando ouvires a chuva cair mansamente
recordarás o tempo que ficou para trás.

Recordarás todos os frutos amadurecidos
pelo sol e a doçura escorrer-te-á
pelo canto da boca, a sorrir ternamente.

Recordarás o vento macio a soprar palavras 
no teu ouvido,
as borboletas a dançarem à volta,
o cantar dos pássaros, o cheiro e a beleza
das flores.

Recordarás aquele pôr do sol, lindo de morrer,
o sempre bem amado mar.

Recordarás todas as palavras?

O passado-angústia 
o erro-frágil
o futuro-incerteza?

Omitirás aquelas que mais queres esquecer?...


Maripa



Imagem: Enrique Ochotorena



        

sábado, 9 de fevereiro de 2013

PÉROLA SOLTA






Pérola solta

Sem que eu a esperasse,
Rolou aquela lágrima
No frio e na aridez da minha face.
Rolou devagarinho...
Até à minha boca abriu caminho.
Sede! O que eu tenho é sede!
Recolhi-a nos lábios e bebi-a.
Como numa parede
Rejuvenesce a flor que a manhã orvalhou,
Na boca me cantou,
Breve como essa lágrima,
Esta breve elegia.

José Régio

Imagens: Google








sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013






Quando penso que uma palavra pode mudar tudo, não fico mudo. Mudo. Quando penso que um passo descobre o mundo, não paro o passo. Passo. E assim que passo e mudo. Um novo mundo nasce na palavra que penso.


Alice Ruiz 

Imagens : Google



domingo, 3 de fevereiro de 2013

CAMINHO DENTRO DE UMA DENSA NUVEM


Imagem: Julia Pogodina



Caminho dentro de uma densa nuvem.

Nuvem a não deixar descobrir o sol
dentro de mim
e a impedir o esquecimento do primeiro
dia de procela
de chuva vento escuridão
que me persegue as horas.

O latejar das têmporas
impede-me de rememorar
ter sido vinha-virgem no tempo das amoras
hera trepadeira em noites enluaradas
madressilva no tempo das coisas simples
acácia em flor em manhãs ensolaradas
rosa em botão sempre com sede de [a]mar.

Fermento do tempo do relógio de pêndulo
fala-me da alma em quebranto a estremecer
- coração de passarinho finito e imperfeito -
nascido que foi para morrer.

Maripa


Imagem: Net

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

RIMANCINHO






Calmamente nos teus olhos
Me afoguei, a descansar...
Passou o tempo silvando,
Passaram frotas de nuvens,
Sem vestígios se encontrar...
Isto foi há muitos anos,
Desistiram de buscar...
Nas ondas quebrando, claras,
Nem as águas adivinham
A eterna sombra e a paz
Das funduras do meu mar...


Cristovam Pavia

Imagens:  Google