sábado, 27 de abril de 2013

O SOSSEGO POR TI








Sosseguei, por ti, o silêncio
das palavras,
a lisura das palavras
e nelas, dentro delas,
o silêncio.

Sosseguei, por ti, o negrume
da noite, 
abracei a fúria enganosa dos
dias para te livrar da escuridão
da noite.

Sosseguei, por ti, a ilusão do quadro,
a permanente vivacidade da cor
a deslumbrar-te os olhos,
a encantar-te a vista
ferindo-te com tanta claridade
inesperada.

Sosseguei por ti,
sim que foi por ti
que sosseguei.

Alexandra Malheiro

Imagens: Google






terça-feira, 23 de abril de 2013

VAGABUNDO DO MAR


Imagem: Google


Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré...
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia...
Foi o vento que virou?
Foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
Ou foi a minha vontade 
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É, por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora
queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Essas coisas acontecem
aos vagabundos do mar.

Manuel da Fonseca 




Imagem: Lloyd K. Barnes

segunda-feira, 22 de abril de 2013

DIA DA TERRA




(...)
O Dia Mundial da Terra foi celebrado pela primeira vez em 1970, criado pelo senador norte-americano G. Nelson, com a finalidade de criar um protesto contra a poluição da Terra. Em 2013, apesar dos esforços de diversas Organizações Não-Governamentais e de países e instituições internacionais, continua a fazer sentido celebrar o Dia da Terra.
(...)
O dia 22 de abril de 1970 representou o primeiro passo num compromisso político, com a força dos cidadãos, para que se preservasse o ambiente e se defendesse a sustentabilidade do Planeta de questões relacionadas com a contaminação das águas e terras, da conservação da biodiversidade e da libertação de gases poluentes, entre diversos outros princípios.
(...)
O Dia da Terra  assume-se como uma manifestação popular de grande importância as populações, que, sobretudo elas, têm um papel a cumprir na defesa do meio ambiente e dos recursos naturais da Terra.


excertos de um artigo de Miguel Moreira








quinta-feira, 18 de abril de 2013

NÃO MAIS





Não mais a madrugada por nós fora,
não mais em nós o vento enternecido,
não mais o peito a arder-se na memória,
não mais a harpa incauta do existido.

Nas veias do silêncio que perdemos
a cada verso novo em nós sentido,
nas asas que outras são e que não temos
em cada espaço por nós consentido.
Não mais uma palavra insensata,
não mais a insana, a louca e vã bravata
não mais demoras fixas no desejo,
não mais perdão nem sombra por desfecho.

Na solidão sozinha das palavras
tão castas, tatuadas, estão na pele,
tão breves, tão despidas, tu as lavras,
na hipnose branca e virgem do papel.



Alexandra Malheiro

Imagens: Google








terça-feira, 16 de abril de 2013

TEATRO DE SOMBRAS






Alguém joga xadrez com minha vida,
alguém me borda do avesso,
alguém maneja os cordéis.
Alguém me inventa e desinventa
como quer:
talvez seja esta minha condição.

Alguém dirige o teatro de sombras
no qual fui ré sentenciada.
Finjo entender de tudo:
ando de um lado para o outro,
faço gestos com as mãos,
cuspo as sementes do fruto
entalado na garganta
com um grito: alguém aí pode me ouvir?

Ninguém reage, ninguém tenta aplaudir:
nesse reino todos usam disfarces,
menos a solidão.


Lya Luft 

Imagens: Google







segunda-feira, 15 de abril de 2013

ESCREVO-TE COM O FOGO E A ÁGUA



Imagem: Margarida Cepeda



Escrevo-te com o fogo e água. Escrevo-te
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado,
um arabesco talvez de mágica leveza.

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera.


António Ramos Rosa




Imagem: Beatriz Poncet


sábado, 13 de abril de 2013

AMOR URGENTE





Amor urgente

Não te demores,

ama-me com a urgência do rio
que se faz ao mar,

a vida não passa de um breve 
sonho,

uma rosa a desabrochar.


Ruth Ministro

Imagens:Google








quinta-feira, 11 de abril de 2013

DE QUE SERVE





De que me serve a placidez da Primavera?
O grito desconjuntado dos pássaros,
a inquietude rumorejante desta paisagem de folhas?
De que me serve o cheiro acre
dos dias terminados e a
memória trémula das mãos,
o desejo pálido da pele?
De que me serve o 
sino-marca-horas,
marca-passo-do-desejo,
o augúrio impertinente das horas
que não tornam mais?

Os sulcos indiferentes
da amarga poesia do teu corpo.
O pousio das horas do silêncio.
A dança equilibrista
das folhas do Outono.

Na sombra onde me encontro
apenas a poalha das estrelas,
uma mácula de luz, ou
talvez só a sua grata memória.


Alexandra Malheiro

Imagens: Google





segunda-feira, 8 de abril de 2013

CONTIGO




Contigo

Acordo na manhã de oiro
entre o teu rosto e o mar.

As mãos afagam a luz,
prolongam o dia breve.

Entre o teu rosto e o mar
ninguém deseja ser neve.

Ninguém deseja o veneno
da noite despovoada.

Acorda-me a tua voz,
nupcial, branca, delgada.

Eugénio de Andrade

Imagens: Google






quinta-feira, 4 de abril de 2013

É MAIS FÁCIL PARTIR QUANDO O SILÊNCIO







É mais fácil partir quando o silêncio
transpõe a tua voz.
Mais simples celebrar a tão efémera
certeza de estares vivo.

A música do ar esvai-se nas sombras,
tu sabes que é assim,
que os dias correm céleres, não tentes
perseguir o seu rasto - repara
como em abril as aves são tão felizes.

Sê como elas: não perguntes nada,
deixa que o sol responda à flor da tarde
e esquece-te do mundo.



Fernando Pinto do Amaral

Imagens : Vladimir Volegov







terça-feira, 2 de abril de 2013

ENDEREÇO






Endereço

Na rua onde moraste
voavam anjos,
não que eu os visse
mas sentia-se um vento diferente,
um certo aroma a cereja
que sempre acompanha os anjos.

Alexandra Malheiro

Imagens : Google