sábado, 26 de julho de 2014

SONETO DO AMOR E DA MORTE







quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.


Vasco Graça Moura

Imagens GOOGLE






terça-feira, 22 de julho de 2014

DEIXEM-ME SONHAR


Andrei Belichenko




Deixem-me sonhar, à procura
dos sinais ocultos do caminho.
É nas asas do sonho que a loucura
faz o ninho.

Deixem-me ser livre como o vento
sem rumo nem compromisso.
O sonho é o lugar do pensamento
insubmisso.

António Arnaut




sábado, 19 de julho de 2014

GALGO NUM OLHAR O VERDE QUE SE ESTENDE





galgo num olhar o verde que se estende
lentamente
e veloz recuo no tempo
galgando os tempos da minha infância

sorvo o doce profundo da natureza
imanente
no hálito fresco e húmido da manhã

gotas de orvalho cintilam
como lágrimas
num rosto de inefável beleza

a paisagem palpita
de luz, cores, odores, sons
- em tropel as sensações

fecho os olhos - a volúpia antiga:
tudo retenho
pintado 
numa tela de retina

algo se funde em mim


Teresa Souto

Imagens: Carol Cavalaris







terça-feira, 8 de julho de 2014

DÁ-ME UM LUGAR






Dá-me um lugar

um lugar onde possa reclinar a cabeça
um colo onde possa adormecer
e te saiba por perto

dá-me mãos inteiras de chuva
os lírios que a manhã me trouxe aos olhos
uma única razão para o dilúvio

e eu dar-te-ei um verso 
do tamanho de uma casa


José Rui Teixeira

Imagens: Igor V. Kapustin