quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ESPERA






Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
Que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
Ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão poisada sobre a mesa

É então que se vê passar o silêncio 

Navegação antiquíssima e solene



Sophia de Mello Breyner Andresen,  in GEOGRAFIA

Imagens: Amanda Cass