sexta-feira, 25 de abril de 2014

EM CADA SÍLABA TE ESCREVO





Em cada sílaba te escrevo,
porque há ventos que amam
a praia e as nossas asas
teimam em voltar galopantes
de onde nunca partiram.
Toco a areia e não me sinto só;
as rendas das ondas
enfeitam-me os cabelos,
prolongam as algas.
Sou água, areia, tu o búzio das marés.
Sabes, adivinhas,
escutas, silencias.
Por isso o nosso toque
não é breve nem sem gosto,
por isso há rios que
se abrem apenas
porque os momentos
se prolongam e entardecem os corpos.

Lília Tavares

Imagens Google



sábado, 12 de abril de 2014

o ponto certo do silêncio


Hester van Doornum




o ponto certo do silêncio

há silêncios que sonham ser casas
e há palavras-pássaros-pequenos
caídas dos ninhos antes das asas

depois há o mar onde buscamos
um som
que nos habite o olhar
quando o coração é seda desfiada

pelo tempo 
tardio
de um lamento

e quando já nada volta atrás
percebemos que
por vezes
é difícil encontrar
o ponto certo do silêncio


Rosário Alves


terça-feira, 8 de abril de 2014

... E SEMPRE A CULPA




... e sempre a culpa


Era a mágoa dobrada ao seu destino.
Era o lençol de pranto e emoção
a crescer , a crescer em desatino.
e a culpa, a cirandar devagarinho,
a germinar no húmus da razão.

E no meu céu não houve mais azul...
E no meu chão nenhuma flor nasceu.
Perdi o rasto à asa em rota sul.
Perdi-me nas escarpas do meu eu.

E a culpa
... e sempre a culpa
               a remoer, sem fim.
E o choro...
... e sempre o choro
               a chuvinhar em mim.


M.L. Mercês de Mello

Imagens Google






sexta-feira, 4 de abril de 2014

os dias iguais



Olga Kulyashova




os dias iguais são ensaios 
de eternidades

todos os dias são um só
dia

as dores: memórias 
esquecidas

as alegrias

o canto tardio
do pássaro cego

os lírios

tudo
como num grande e fugaz

delírio



Nydia Bonetti