sábado, 31 de janeiro de 2015

QUEM PODERÁ DOMAR [CANÇÃO TÃO SIMPLES]




Quem poderá domar os cabelos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?

Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?


Manuel Alegre  

Música de António Portugal
Voz de José Mesquita







quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

TENHO UMA COISA PARA TE ENTREGAR





Tenho uma coisa para te entregar,
uma pedra a pôr no meio da rua,
uma lunar presença sobre o sol.

Tenho uma coisa para te devolver,
para ficar minha sendo tua,
aquecida no tempo e nestes olhos.

Tenho uma coisa que te posso dar
que é o vento a vir atrás do verde
e a dizer azul no teu cabelo.


Pedro Tamem

Imagens: Google





quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A NOITE TRAZ O LUAR






A noite traz o luar
a ursa maior  a ursa menor
a sombra  a neblina  o medo

o medo
das horas
das auroras
dos equinócios idos
dos solstícios futuros

no presente envenenado há trovoadas
a chuva negra alaga o instante suspenso
a lama invade o leito do rio sem margens

à mesa do tempo
senta-se   o amor   a saudade   a memória
a vontade   a esperança   de viver sem medo

o dia traz o sol nascente
as árvores   as  flores   os frutos
a luz    a claridade     o destemor


Maripa   

Imagens: Google





terça-feira, 20 de janeiro de 2015

APELO





Quem quer que sejas, vem a mim apenas
De noite, quando as rosas adormecem!
Vem quando a treva alonga as mãos morenas
E quando as aves de voar se esquecem!

Vem a mim quando, até nos pesadelos,
O amor tenha a beleza da mentira.
Vem quando o vento acorda em meus cabelos,
Como em folhagem que, ávida, respira...

Vem como a sombra, quando a estrada é nua,
Num risco de asa, vem, serenamente!
Como as estrelas, quando não há lua
Ou como os peixes, quando não há gente!

Pedro Homem de Mello

Imagens : Google






quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

COMO VELA ACESA





Como vela acesa
que ilumina se gasta
e desgasta no tempo

como linha que borda
os passos, o compasso
da vida imperfeita

como laço que laça
e deslaça na noite

como tecido de seda
que veste o pensamento
sem nexo no dia usado

como olhar que mendiga
o reflexo da luz do luar

como pássaro perdido
voando no céu
              sem ter
                      onde pousar.


Como eu a rezar...


Maripa

Imagens Google





quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

ESCRITO NO PIAR DUMA GAIVOTA

Helen Cottle




Há o universo azul
onde vivem e moram
silêncios quase totais.

Essa lonjura infinita
não me permite avistar
se as nuvens têm asas
e olhos tristes a chorar,
se na lua há pirilampos
a cair na noite escura...

Deixar-me-á algum recado,
mensagem trazida do mar?

Será que o mar me quer dar
o recado,à luz do amanhecer,  
escrito no piar duma gaivota
pousada para além dos areais?


Maripa



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

SE EU PUDESSE TRINCAR A TERRA TODA




Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...



Alberto Caeiro, in " O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"

Heterónimo de  Fernando Pessoa    



Dito por PEDRO LAMARES





domingo, 4 de janeiro de 2015

SONETO DA CHUVA





Quantas vezes choveu no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?

Virá abril de novo, até à tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita que fores
carregada de cinza como a lua.

Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.

Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que a chuva e a lama nas estradas
és tu, poesia, meu amado rio.

Carlos de Oliveira

Imagens: GOOGLE






quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

OFEREÇO ROSAS





Triste e também perturbada pelo tempo de afastamento dos queridos, mas  nunca esquecidos, amigos do meu blogue, peço desculpa. Conto com o vosso carinho, amizade e tolerância.
Estou com tantas saudades... Mas o meu "tempo"_a idade_ , a saúde e o cansaço assim o destinaram. Enfim, todas as razões,  e as circunstâncias de uma longa "caminhada".


E como " Quando as palavras fogem... as flores falam"

ofereço rosas 

ao reabrir, com esperança, os comentários  neste Novo Ano.







Um abraço da Maripa


FELIZ 2015