segunda-feira, 22 de junho de 2015

TUDO ERA MAIS PRÓXIMO






Lembro sinais
do tempo em que
tudo era mais próximo
tudo era mais pequeno.

Era
tudo aqui junto a mim
encostado no meu colo
ligado às minhas mãos.

Colhia as maçãs
dos braços das macieiras
ao mesmo tempo que
perto do chão os morangos
exibiam o sabor de cada dia.

Era afortunada e não sabia.
Tudo era mais próximo
tudo era mais pequeno.

Não sabia do longe que existia
... do perto guardava em mim
a cor      a luz      a serenidade 
duma esplendorosa harmonia.


Maripa

Pinturas: Cheri Wollemberg







terça-feira, 16 de junho de 2015

UMA PEQUENINA LUZ





Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.



Jorge de Sena





terça-feira, 9 de junho de 2015

PALAVRAS ABERTAS EM FLOR





Naquele livro,
em cada página um rio de palavras
abertas em flor
deslizava para o mar.
Nuvens ondeavam no céu tingido 
de azul-sossego
enquanto
o silêncio e o perfume das letras,
amarradas uma a uma
entre margens,
precisavam de asas
para serem livres como  borboletas.

Entre as folhas repousavam
um coração de papel, um trevo da sorte,
uma fita de seda, uma rosa ressequida.
Migalhas de tempos de mel.

Agora
na fluidez dos tempos líquidos e efémeros,
desorientados,  medos brancos,  medos negros
deixam voar  palavras abertas em flor...
É um agora sem brilho
onde medos  negros  sobressaltam corações
esgotados por  ventos a soprar sem  norte.



Maripa

Imagens: Google







sexta-feira, 5 de junho de 2015

CANÇÃO BREVE






Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com um resto de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.



Eugénio de Andrade

Imagens: Francine  van Hove





terça-feira, 2 de junho de 2015

CONTA E TEMPO





Conta e Tempo

Deus pede estrita conta do meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta,
Mas como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo. 

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto há tempo, em fazer conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...



António da Fonseca Soares

Imagens: Google


Soneto, obra prima do trocadilho, escrito no século XVII. Frei António das Chagas, de seu nome António da Fonseca Soares, também conhecido por Padre António da Fonseca [Vidigueira, 25 de Junho de 1631 - Varatojo - Torres Vedras, 20 de Outubro de 1682] foi um frade franciscano e poeta português.

[Soneto recebido, por mail, de uma amiga  de quem gosto muito]. 
Bem haja, Isabel.

Beijinho  







segunda-feira, 1 de junho de 2015

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA







"Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a." 
Johann Goethe








O Dia Mundial da Criança é oficialmente o dia 20 de novembro, data em que a ONU reconhece como Dia Universal das Crianças por ser a data em que foi aprovada a Declaração dos Direitos da Criança . No entanto em muitos países é comemorado a 1 de junho como é o caso de Portugal.