sexta-feira, 23 de outubro de 2015

OS OLHOS FALAM





Os olhos falam. 
Falam de histórias,
pequenas memórias longínquas,
lavadas pelas águas do rio
que se encaminha para a foz.
Os olhos brilham
quando o sol põe reflexos reluzentes
nas asas das libelinhas
enquanto voam rente ao rio.
Os salgueirais das margens
parecem mais verdes
quando baloiçam com trejeitos  de dança
ou adeuses infinitos.


Na tarde lenta
os olhos cansados, calam-se.
O sol declina
e o remoinho das emoções vem à tona. 

No silêncio sem norte,
um barco aguarda  a hora da luz derradeira.

Ao acordarem, as libelinhas,
entretanto adormecidas
nos braços macios dos salgueiros,
rumam a sul,
esgueirando-se por entre lágrimas de água. 



Maripa

Imagens: Google







sábado, 17 de outubro de 2015

HÁ MULHERES QUE TRAZEM O MAR NOS OLHOS




Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes.

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Pela grandeza da imensidão da alma
Pelo infinito  modo como abarcam as coisas 
e os Homens...
Há mulheres que são maré  em noites de tardes 
e calma. 


Sophia de Mello Breyner

Imagens Goggle










sábado, 10 de outubro de 2015

DISPO-ME DE SOMBRAS





Dispo-me de sombras para colher a cor
serena e quente das folhas de outono.

Descalço-me para não afastar o silêncio
que me enlaça com gestos de abandono.

Nos momentos de frágil transparência
envolvo-me em singelos sons musicais e
em sacros poemas a voar na paisagem
uma dança imanente.

Instantes incendidos de saudade
amena e indiferente
aos ressaltos da espiral do tempo
que por mim passa e
aos humores e rumores do vento
que me provoca e abraça.


Maripa

Imagens Google






sábado, 3 de outubro de 2015