segunda-feira, 28 de setembro de 2015

MUITAS VEZES EM SETEMBRO




Muitas vezes em setembro o sol abre o dia.
As horas espalham-se mornas sobre a pele
aquecem a memória supostamente fria...


Incendida e impetuosa  mostra as  palavras "luz  amor vida" gravadas  na caixa de música florida que foi nossa. Conta que a melodia que fazia dançar a bailarina como nuvem solta no ar , tinha deixado de se ouvir. Que  as palavras entristeceram e nunca mais foram felizes e assim , numa vertigem se desmoronaram. Que as letras, soltas e sós, sem fulgor nem sonho para as incentivar a unir-se, abraçaram e beijaram o rosto húmido da bailarina num adeus sem regresso. Conta que agora, dos olhos sem brilho, lágrimas lhe caem no colo como furtivas canções de outono...


Muitas vezes nas tardes de setembro adormeço
recostada na cadeira de baloiço e tenho sonhos.

Acordo, recordando a bailarina  a melodia
a caixa de música há tanto tempo partida...

                                            ...acordo e estremeço.



Maripa

Imagens Google







sexta-feira, 25 de setembro de 2015

UM SUSSURRO







Um sussurro
ou o canto longínquo 
de um pássaro triste
talvez uma palavra
lançada ao acaso soprada ao vento
ou a espuma do mar
tomando conta do meu pensamento

uma criança perdida estremece de frio dentro de mim 
sozinha ao relento




Ruth Ministro








quarta-feira, 16 de setembro de 2015

COM ESTA SUAVE ARAGEM




Com esta suave aragem
com barcos em tons de azul
quase toco as nuvens com a mão.

Neste momento suspenso
sem segundos nem minutos
há imagens que tocam a ilusão.

Medito sem grandes pressas
 - tenho que me reinventar- 
e dada
a falta de ondas em agitação
navego até aos mares do sul,
levando na bagagem pensares
com tons rosados a madrugar.

Alindo-me com a blusa de flores
que me deste no dia dos meus anos 
e com tatuagens em tons pastel.

Para trás 
muitas coisas vou deixar...
[o velho vestido lilás
                         vou atirá-lo ao mar!]

Revestida com outra pele,
com esta suave aragem
com barcos em tons de azul,
quase invento a perfeição...

Maripa

Imagens Google







sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DAI-ME UM DIA BRANCO





Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber.


Sophia de Mello Breyner

Imagens Google