segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

" O ABRAÇO..."



"Diz-se que o nosso corpo tem a forma de um abraço.Talvez por isso a tarefa de abraçar seja tão simples, mesmo quando temos de percorrer um longo caminho.  (...) Os abraços são a arquitetura íntima da vida, o seu desenho invisível, mas absolutamente presente; são plenitude consentida ao desejo e memória que revitaliza. Todos nos reconhecemos aí:em abraços quotidianos e extraordinários, abraços dramáticos ou transparentes, abraços alagados de lágrimas ou em puro júbilo, abraços de próximos ou de distantes, abraços fraternos ou enamorados, abraços repetidos ou, porventura, naquele único e idealizado abraço que nunca chegou a acontecer mas a que voltamos interiormente vezes sem conta.
No princípio era o abraço, se pensarmos no colo que nos nutriu na primeira infância. Essa foi , para a maioria de nós, a primeira e reconfortante forma de comunicação. Mas a necessidade de um abraço acompanha a nossa existência até ao fim. O abraço é uma longa conversa que acontece sem palavras. Tudo o que tem de ser dito soletra-se no silêncio, e ocorre isto que é tão precioso e afinal tão raro: sem defesas, um coração coloca-se à escuta de outro coração.  (...)"


José Tolentino Mendonça 

 Excerto da crónica do J.Expresso " Que coisas são as nuvens"

Imagens:Google








quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

DE DENTRO







Há uma noite dentro da noite,
dentro de mim, dentro do peito.
Há um grito dentro do silêncio
que engole a noite dentro de mim.
Há um gigante dentro dos olhos,
dentro da boca, dentro das palavras.
Há um segredo dentro das mãos
que tecem a noite dentro do poema.
Há um poema a morrer de escuridão
dentro do poema, dentro do fogo.
Há um deserto a florir de dentro.


Ruth Ministro
Imagens : GOOGLE









sábado, 2 de janeiro de 2016

AMANHECER SEM SOMBRAS





Com os olhos fitos lá longe
vejo pessoas envoltas em nevoeiro.
Enleadas umas nas outras evocam 
momentos de um tempo que se foi.
Deixaram de ter cor, mas são seres-raízes
que me prendem à terra e mesmo sem voz
me conduzem a dias que foram felizes.

Estendo os braços,
procuro tocar-lhe os rostos pálidos,
mas há dor no silêncio de tantas luas.

Sustenho o grito sufocado na garganta.
Há pontes a impedir o toque, os abraços,
entraves a isolar as minhas mãos tão nuas.

Deambulo sem pressa de chegar a algum lugar.

Poderei amanhecer sem sombras,
onde quer que seja o meu refúgio,
se uma gaivota me mostrar o mar?


Maripa

Imagens: GOOGLE