"Diz-se que o nosso corpo tem a forma de um abraço.Talvez por isso a tarefa de abraçar seja tão simples, mesmo quando temos de percorrer um longo caminho. (...) Os abraços são a arquitetura íntima da vida, o seu desenho invisível, mas absolutamente presente; são plenitude consentida ao desejo e memória que revitaliza. Todos nos reconhecemos aí:em abraços quotidianos e extraordinários, abraços dramáticos ou transparentes, abraços alagados de lágrimas ou em puro júbilo, abraços de próximos ou de distantes, abraços fraternos ou enamorados, abraços repetidos ou, porventura, naquele único e idealizado abraço que nunca chegou a acontecer mas a que voltamos interiormente vezes sem conta.
No princípio era o abraço, se pensarmos no colo que nos nutriu na primeira infância. Essa foi , para a maioria de nós, a primeira e reconfortante forma de comunicação. Mas a necessidade de um abraço acompanha a nossa existência até ao fim. O abraço é uma longa conversa que acontece sem palavras. Tudo o que tem de ser dito soletra-se no silêncio, e ocorre isto que é tão precioso e afinal tão raro: sem defesas, um coração coloca-se à escuta de outro coração. (...)"
José Tolentino Mendonça
Excerto da crónica do J.Expresso " Que coisas são as nuvens"
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