segunda-feira, 27 de abril de 2009

O VENTO QUE POR MIM PASSA


O vento que por mim passa
[e devassa o pensamento]
diz-me que posso trepar
ao mais alto dos montes
e agarrar com as mãos
a poeira das estrelas.

Diz-me que posso descer
ao mais fundo dos mares
e plantar um jardim.

Mas como
se me dói cada hora
cada minuto cada segundo
se me dói sonhar de asas abertas
se me dói o eco dos meus passos
neste tempo do quase florir das giestas?

Maripa

Imagem de Anke Merzbach

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A UMA CEREJEIRA EM FLOR


Acordar, ser na manhã de abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raíz,
dar versos ou florir desta maneira.

Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz ou o que quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.


Eugénio de Andrade

Imagem da Net

sábado, 18 de abril de 2009

AMAR PALAVRAS-BORBOLETA


Amar palavras-borboleta a voejar
de sobressalto em sobressalto.

Ondulantes
[mutantes de cor]
rebrilhando ao sol
na orla incandescente e azul
do pensamento.


Amar palavras-borboleta
de voo em voo
à procura do caminho das rosas
na rota das flores.


Palavras-borboleta
ávidas duma gota de mel
[adoçante de folhas de papel]
verso
a
verso
levadas pelo vento
a jardins onde crescem os amores.

Maripa

Imagem de Maria Pleshkova

quinta-feira, 16 de abril de 2009

BÚZIO


sei que nunca viste o oceano,
que nunca olhaste a onda sobre a onda,
que nunca fizeste castelos para o mar ser forte.

mas sei que já viste o coração das coisas,
que já tocaste a ferida nos nossos braços,
que já escreveste para sempre o nome da terra.

por isso te digo que vou levar-te o mar
na concha das minhas mãos, azulíssimo,
para que nele descubras o meu nome
entre os seixos os búzios os rostos que já tive.


Vasco Gato, em Um Mover de Mão

Imagem de Sabin Balasa

segunda-feira, 13 de abril de 2009

COMO PINTAR O SOL TODAS AS MANHÃS



Como pintar o sol todas as manhãs
no jardim onde florescem os lírios
se tenho as mãos vazias
de certezas
e de versos?

Sonho, tão-somente, versos obscuros,
versos lua nova.
Não versos quarto crescente
- a aspergir luar -
acalentados pelo som das harpas
dos anjos com brilhos de mistério
e asas de papel.

Papel de seda... de seda
para vestir e amaciar o tempo
de pintar o sol no tempo dos lírios.

Amaciar o tempo das mãos vazias
e da tristeza à flor da pele.

Maripa

Imagem de Olbinski

domingo, 12 de abril de 2009

APETITES DE AVÓ




Para os meu pequeninos...para outros pequeninos ...e também para mim que , às vezes, sou tão pequenina quanto eles. Hoje é o caso...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

FELIZ PÁSCOA



Feliz e Santa Páscoa com alegria, paz e muito amor.

terça-feira, 7 de abril de 2009

TRAGO DENTRO DE MIM UM MAR IMENSO


Trago dentro de mim um mar imenso
feito de vagas tristes
e sonhos vagos

o horizonte é uma manhã
que eu quis minha para ser eu

e para porto de abrigo escolhi uma tarde
que soubesse chorar a morte do sol


José Rui Teixeira

Imagem de P. di Fruscia

quarta-feira, 1 de abril de 2009

É ABAIXO DA LINHA D'ÁGUA


É abaixo da linha d'água
que lavo a máscara dos dias enviesados
e me refugio no lugar onde moram os sonhos.

O impulso para me esconder na minha concha
- ânsia ágil e veloz que me seduz -
contraria a leve intensidade dos meus gestos.

E é quando os raios de sol em eclipse
rompem o mar
e iluminam miríades de grãos de areia
[sementes de pérolas nacaradas]
que me deixo atravessar
por pensamentos onde há restos de luz.


Maripa

Imagem de V. Kush