terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UM MISTO DE ORAÇÃO E DE FEITIÇO




Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo 
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...



Miguel Torga

Imagem: Johanna Wright

domingo, 26 de fevereiro de 2012

DIZ O QUE QUISERES





Quando a imensidade das sombras
se acercar de mim promete que dirás
que fui com as aves matinais
pernoitar à boca das marés em busca
do sulco da lua pelas noites dentro.
Diz as coisas mais banais.
O que quiseres. Diz.
Nunca te faltam as palavras
para enganar as sombras.



Graça Pires

Imagem: Iness Rychlik

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O NOME DA AUSÊNCIA





O sótão: era ali
que o mundo começava. Ainda
não sabias, então,
quantas letras te seriam
necessárias para soletrar
o alfabeto dos dias, para encher
a tua caixa 
de música, a tua concha
de areia. E ainda
o não sabes hoje. Com cinza
nada se escreve a não ser 
as vogais do silêncio. E este
é o nome que se dá à ausência,
quando a noite e a poeira
dos astros pousam
sobre a ranhura dos olhos.


Albano Martins

Imagem: Irina Todorova

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AS MANHÃS




Das manhãs

Apenas levarei a tua voz

Despovoada

Sem promessas
Sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs e madrugadas


Daniel Faria

Imagem:Google

 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

IMERSA



Há uma palavra imersa em meus sentidos,
um poema que não se pode dizer.

Faz do meu corpo seu país,
deita versos desalinhados
sobre mim.

Depois voa,
seu voo de canção.


Silvia Chueire 

Imagem: Google

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

APRENDENDO A SER



Ela mede o fogo
pela alma

Faz uma trança de riso
em vez de lágrima

Tece o amor que tem
até aos outros

Troca o espírito e a paz
pela coragem

Ela teima na esperança
e volta ainda

Retoma o fio de prumo
com que traça

A linha da vida
que assume

Dispondo do avesso
até à face

Ela põe e repõe
o seu destino

Vai mais longe
naquilo que disfarça

Ela ousa o coração
e reafirma

Bordando o arco-íris
do que é frágil


Maria Teresa Horta

Imagem: Vicente Romero

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

AH...COMO TARDA O TEMPO DAS CEREJAS



Quero embeber a alma em pétalas 
de flores de cerejeira

quero cantar, num beijar de águas,
as fadas brancas
os solfejos encantados
a hora do pôr do sol no terraço

quero viver o tempo do ocaso das delícias
com brilho amendoado
no olhar calado,
morder
como quem beija
cada cereja [re]colhida no regaço

quero fugir ao labirinto interno
dizer não ao capricho das vontades

quero esquecer tristezas
saudades.

Ah...como tarda o tempo das cerejas.


Maripa

Imagem: Pascal Cessou

domingo, 5 de fevereiro de 2012




Desfolhar uma rosa é poesia ou prosa?





Cruzeiro Seixas

Imagem: Magnolia Pearl

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

AINDA TE FALTA DIZER ISTO




Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.



Albano Martins

Imagens: Google




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012






Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros



Ruy Belo

Imagens: Google