sábado, 20 de março de 2021

NO ECO DA MANHÃ CLARA

 




No eco da manhã clara

 

No eco da manhã clara

acordou um suave amanhecer

em cada canto da casa...

 

Já na plenitude da tarde,

levantaram-se sopros de vento

trazendo palavras de sol em brasa...

 

Num instante

escurecemos, o dia e eu,

e a casa esfriou... e agora?

 

Como enganar o tempo

no silêncio da noite,

se cada hora me arrasa?


Maripa







segunda-feira, 15 de março de 2021

LUA CHEIA

 

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LUA CHEIA

 

 nas palavras lavo os panos tristes

que ao fim de uma estação retêm agora

a sensação dos dias, o lume dos passos.

 

sinto que é um outro tempo,

um outro jeito de dobrar esquinas,

um outro modo de pisar a terra

– é tudo isto comprimido num pulso,

cingido dentro de veias como pequenas vozes

mudadas em canção ao acordar do ano.

 

vem, vem comigo, neste magnífico nascimento,

ouvir bater a espuma no cinzento das rochas,

e deixar passar as horas como quem flutua

à tona do tempo, inteiramente mergulhado no mundo

– vem dormir sob o luminoso manto da lua cheia.

 

hei-de dizer-te um dia

como se escolheu a cor do mar.

 

Vasco Gato 







 

Mari Samuelson - Moonlight Sonata [Beethoven]


sexta-feira, 12 de março de 2021

ABRAÇO

 



ABRAÇO

 

Abraço com força as seis letras que soletro

e  sonho acordada com a realidade que demora.

 

Devagar, passo a passo,

esgueiro-me por entre pensamentos

que me fazem sentir mais o inverno

e o inferno que se enrolou em nós.

Tenho frio.

 

Tudo é tão intenso e estranho

 e longo...

 

Vive-se com dor e  esperança              

enfrentando o  mal profundo

que com a força duma tempestade

transbordou por esse mundo.

 

Trémula por dentro e por fora,

esgoto-me pelas lentas esperas

e porque o cansaço não revigora.

vou secando de saudade...


Preciso tanto do vosso abraço

e de sonhar com a vida de outrora....

 

 

                                                                                    Maripa







Joshua Bell 

"Una furtiva lagrima"  [Donizetti]


sábado, 6 de março de 2021

TRAJECTO NA ESCRITA

 


 

TRAJECTO NA ESCRITA

 

Vou entrançando

o traçado

do meu trajeto na escrita

 

Consulto os mapas da alma

o júbilo, a assombração

do coração a desdita

 

os atlas da insubmissão

as cartas dos oceanos

os versos, a alegoria

 

Vou navegando à bolina

por entre ventos contrários

e ondas enraivecidas

 

com a bússola da transgressão

os astrólogos dos dias

e as palavras da poesia

 

Vou atando e desatando

o destino e a desdita

misturando os nós dos mares

 

com o anelo da paixão

o alvoroço da vida

as dúvidas da harmonia

 

e a minha melancolia



 Maria Teresa Horta, Estranhezas