domingo, 28 de novembro de 2021

AMOR FAZ DE SOL






Amor faz de sol

 

Amor

faz de sol

 

adormece os pássaros

insones

no meu corpo

 

Amor

faz de mar

 

e de mim um seixo húmido

nítido

brilhante

 

Amor

faz de lua

 

equilibra um barco

nos meus dedos

um nenúfar

a sombra de uma ponte

 

E sê a noite imensa

e sê o rio sem nome

o cavalo solto

a distância plena

 

Teresa Rita Lopes




YouTube e Pinterest 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

SEMPRE EM NOVEMBRO

Imagem: Weheartit.com


Sempre em novembro


 Isenta de mim estarei pronta para riscar

os dias no pó que será barro de oleiro,

em mãos que talham enredos.

Prendo no pescoço um friso

de alecrim e sigo, por atalhos,

a linhagem das árvores de troncos espessos.

É agora meu o tempo acutilante do silêncio.

Faço o inventário inexplicável

dos pássaros que morrem todos os anos,

sempre em novembro,

sempre no fundo de meus olhos,

sempre ao som das primeiras chuvas.

E morro também, de morte lenta,

no cetim das flores desfolhadas

sobre o musgo dos sentidos.

 Graça Pires

De "Uma claridade que cega"



Just for You,
minha Amiga Graça.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

ASTRONOMIA



ASTRONOMIA

 

Vou buscar uma das estrelas que caiu

do céu, esta noite. Ficou presa a um

ramo de árvore, mas só ela brilha,

único fruto luminoso do verão passado.

 

Ponho-a num frasco, para não se

oxidar; e vejo-a apagar-se, contra

o vidro, à medida que o dia se

aproxima, e o mundo desperta da noite.

 

Não se pode guardar uma estrela. O

seu lugar é no meio de constelações

e nuvens, onde o sonho a protege.

 

Por isso, tirei a estrela do frasco e

meti-a no poema, onde voltou a brilhar,

no meio de palavras, de versos, de imagens.

 

Nuno Júdice, O Breve Sentimento do Eterno



Alexandra Whittingham - Um dia de noviembre 

Imagem e vídeo: Google


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Para o meu amor

 





São as pessoas como tu que fazem com que o nada queira dizer-nos algo, as coisas vulgares se tornem coisas impor-tantes e as preocupações maiores sejam de facto mais pe-quenas.

 São as pessoas como tu que dão outra dimensão aos dias, transformando a chuva em delirante orvalho e fazendo do inverno uma estação de rosas rubras.

 As pessoas como tu possuem não uma, mas todas as vidas.

Pessoas que amam e se entregam porque amar é também partilhar as mãos e o corpo.

Pessoas que nos escutam e nos beijam e sabem transformar o cansaço numa esperança aliciante, tocando-nos o rosto com dedos de água pura, soltando-nos os cabelos com a leveza do pássaro ou a firmeza da flecha.

 São as pessoas como tu que nos respiram e nos fazem ins-pirar com elas o azul que há no dorso das manhãs, e nos estendem os braços e nos apertam até sentirmos o coração transformar o peito numa música infinita.

São as pessoas como tu que nunca nos pedem nada mas têm sempre tudo para dar, e que fazem de nós nem ícaros nem prisioneiros, mas homens e mulheres com a estatura da vida, capazes da beleza e da justiça, do sofrimento e do amor.

São as pessoas como tu que, interrogando-nos, se interrogam, e encontram respostas para todas as perguntas nos nossos olhos e no nosso coração.

As pessoas que por toda a parte deixam uma flor para que ela possa levar beleza e ternura a outras mãos.

Essas pessoas que estão sempre ao nosso lado para nos ensinar em todos os momentos, ou em qualquer momento, a não sentir o medo, a reparar num gesto, a escutar um violino.

São as pessoas como tu que ajudam a transformar o mundo.


Joaquim Pessoa,  in "Ano Comum" - Citador



 Imagem e vídeo: Google