segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

AGORA ESCREVO ESTRELAS





Agora escrevo estrelas
desenho uma constelação
no sossego
do azul-noite que me cobre.
Uma a uma, 
vão alumiando a lua minguante
que se passeia no firmamento.
Sem sono
escrevo estrelas e tento
atar o fio de um gesto em flor
ao ramo de uma árvore
onde crescem morangos
da cor da paixão.

Talvez não passe
de um sonho
de um delírio
talvez loucura
antes que me acenda
para o dia que ainda me procura.


Maripa

Imagens: Google








domingo, 27 de janeiro de 2013

DE SEDA






De seda


São pequenas as jarras de porcelana
onde deixámos os lírios brancos
que resistiram ao tempo da secura.
E quando os nossos olhos orvalhados
ficaram mais sensíveis à luz
do amanhecer juncámos o chão
que amamos com a brancura dos lírios.
De seda. Da sede : gota a gota.

Graça Pires

Imagens:  Luisa Mayans







sábado, 26 de janeiro de 2013

JÁ NÃO VIVO. SÓ PENSO





Já não vivo. Só penso. E o pensamento
é uma teia confusa, complicada,
uma renda subtil feita de nada:
de nuvens, de crepúsculos, de vento.

Tudo é silêncio. O arco-íris é cinzento,
e eu cada vez mais vaga, mais alheada.
Percorro o céu e a terra aqui sentada
sem uma voz, um olhar, um movimento.

Terei morrido já sem o saber?
Seria bom mas não, não pode ser,
ainda me sinto presa por mil laços,

ainda sinto na pele o sol e a lua,
ouço a chuva cair na minha rua,
e a vida ainda me aperta nos seus braços.


Fernanda de Castro

Imagens: Google




quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

JARDIM SECRETO





Hoje
estive no meu jardim secreto.

Olho o muro coberto de heras
e tento adivinhar os reflexos do silêncio
que indolente
faz o seu nicho para aí descansar.

Permanece tudo tão sereno e quieto
como antes...
Inspiro e expiro levemente, calma
e vazia de desassossegos, 
ganho asas.

Depois
um voo raso até sentar no chão,
sentir o pulsar da terra,
escutar o Mondego a caminho do mar...

Gulosa
olhar as laranjeiras da copa à raiz
e, gomo a gomo, saborear a doçura
de uma meninice feliz.

O garrido das flores, a sua fragância,
o verde que  me acende a alma e
o céu azul preso nas franjas da memória
daquele lugar raro,
levam-me sempre
a regressar à minha infância.


Maripa

Imagens: Helena Bernáld








domingo, 20 de janeiro de 2013

ÀS VEZES BASTA UMA PALAVRA





Às vezes basta uma palavra

às vezes basta uma palavra: árvore
e ouço a música dos ramos
correndo transparente
como um rio azul

a sua voz é água 
um violino puro

coroado de vento
nuvens


Maria Azenha

Imagens: Google





terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SER OCEANO





Ser oceano

Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa de se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer, mas de tornar-se oceano.




Osho

Imagens: Google





segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

TARDE


Imagem: A. Andrew Gonzalez





Tarde

Nostálgica é a luz
que desliza das margens deste rio sem ti.
Os chilreios do tempo ecoam nas águas de vidro
e através delas vêem-se melodias silenciosas
abandonadas à sombra dos limos.
A tarde esmorece... Inteira.





Lídia Borges




Imagem: Kari Herer

sábado, 12 de janeiro de 2013

MARIZA








Em dia, frio e chuvoso, de inverno, aquece o coração ouvir a voz de Mariza, cantando com todo sentimento 
                                                                      
                                                        "Chuva" com  poema e música de Jorge Fernando 









quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TEIA



Imagem: Irina Kuneva



Teia

São os anos contados
pelos dedos:

Um a um, devagar, pelas ruínas,
entre a paixão, poemas e segredos
que no mar não vêm ao de cima

Mas são as cordas, as harpas
e os dedos

Mas são as lágrimas, as dúvidas
e são os medos

Que desfazendo, fazendo e refazendo
o tempo vai tecendo no nosso corpo
ainda



Maria Teresa Horta




Imagem: Google

domingo, 6 de janeiro de 2013

PEGO NO COLO O RAIO DE SOL...





É tarde,meu amor, para relembrar os tempos de outrora.

Mas se for preciso navego no tempo.
Pego no colo o raio de sol que ficou preso
naquela janela virada para o mar
e pode até chover que não vou chorar.

Não vou chorar...

Já se foram as cores do nosso outono; voaram
cheias de pressa fugindo ao cinzentismo
que se apegou à vida e ao pensamento de tantos
nos tempos de agora.

Pego no colo o raio de sol...

Digo não ao dramatismo e no inverno instalado 
nos dias tecidos a frio, bordo borboletas
em mantos com a cor de nesgas de céu.

Nesgas de céu da cor de um azul em desmaio...

E saio da janela virada para o mar, enrolada
nos nossos poentes, olhos postos nos idos de outrora,
pronta a recordar sentada a teu lado.



Maripa

Imagens Google




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

DEIXA QUE OS MEUS OLHOS






Deixa que os meus olhos se fechem
E confiem um minuto nos teus...
Olha por mim, protege o meu sonho
Vigia o meu descanso e afasta-me de todas as mágoas
Deixa que os meus olhos durmam nos teus...



Albano Martins

Imagens: Google