terça-feira, 28 de abril de 2015

UMA FACE





tenho os olhos cansados
de compreender
em que ponta de pedra
se equilibra a razão.

o céu é de um azul 
cortante
navalha que desafia a dor
ou hino de glória.

a lua amanhã não estará cheia
e a  noite será mais profunda.
todas as coisas têm mais de uma face
menos a saudade.


Sílvia Chueire

Imagens Google







quarta-feira, 22 de abril de 2015

FOLHA VAZIA...




Quando me arrisco a escrever
pequenas ideias são sementes.

A imaginação avisa e  dispara
e sem permissão ou consentimento
o pensamento em breve se baralha.

Invento para hoje um veleiro
velas inchadas ao vento
ondas temperadas de sal
onde eu,
marinheira de águas paradas
vou aportar a ilhas prateadas.

Logo logo, a mente tagarela
salta para os dias espaçosos.
As manhãs têm pássaros verdes
as tardes são de mel  de morangos
e do néctar dos deuses gulosos.

Apetece mesmo assentar  aqui,
mas não... a mente nunca se cala.
As ideias não são nada tolerantes
a etapas a paragens a demoras.

A noite desabrocha sem estrelas.
A sombra alada dos pensamentos
que não têm por hábito dormir
idealiza enigmas para a noite fria.

E quando as perguntas sem resposta
se lembram de me arruinar as horas

a folha em branco permanece vazia...


Maripa

Imagens: google




quinta-feira, 16 de abril de 2015

O RAMO ROUBADO





De noite iremos 
roubar 
um ramo florido.

Saltaremos o muro,
nas trevas do jardim alheio,
duas sombras na sombra.

Ainda não passou o inverno,
e a macieira aparece
subitamente transformada
em cascata de perfumadas estrelas.

De noite saltaremos
até ao seu trémulo firmamento,
e as tuas pequenas mãos e as minhas
roubarão as estrelas.

E em segredo,
na nossa casa,
na noite e na sombra,
entrará com os teus passos
o silencioso passo do perfume
e com pés siderais
o corpo claro da primavera.


Pablo Neruda  in Poemas de Amor

Imagens Google









quinta-feira, 9 de abril de 2015

MÁSCARA DE MIM




Se perguntarem por mim digam que parti, 
nem sequer sabem se volto. 
Escurecida por dentro, terei de ir à procura de luz 
dessa luz que me fugiu e me apagou...
Talvez a possa encontrar se me encontrar. 

Por onde andará a máscara de mim? 

Talvez a primavera que floresce sem precisar de chuva, 
na sua perfumada nudez seja capaz de me oferecer 
pingos de cheiros, pinceladas de cor, poemas azuis
que me desentristeçam.

As flores das mimosas e das magnólias,
 breves alegrias, 
ausentaram-se para parte incerta 
deixaram saudades. 
Muitas, mais tardias e duradouras
tagarelam entre si nas manhãs lisas e  frescas.
Olho-as longamente querendo levar comigo
o deslumbramento do colorido que me enterneceu
em todos os anos que se foram.

Caminho devagar, ideias desalinhadas,
coração a segredar 
não esqueças as raízes que criaste      
não esqueças os amores perfeitos 
não esqueças os  sonhos sonhados... 

Um vento de chama violeta 
desassossega-me os cabelos 
uma gaivota vigia-me das alturas.

Estou cansada... 
Sou um rio a correr para o mar e tenho frio. 
Sou uma sombra e tenho sede. 

Por onde andarei?

Sem norte, meio perdida, se alcançar o mar 
o meu mar  olhar-me-á olhos nos olhos 
ou não me reconhecerá?

E tu, meu amor de sempre, 
darás à máscara de mim a luz que lhe fugiu 
e o colo que nunca lhe negaste?

Maripa

Imagens: Pinterest








segunda-feira, 6 de abril de 2015

MELODIA





Este é o orvalho dos teus olhos.
Esta é a rosa dos teus vales.
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.
Tu estás no meio,
entre a dor e o espanto da treva.
Arrancas-te ao mundo e és a perfumada
distância do mundo.
Chego sem saber à beira dos séculos.
Despenho-me nos teus lagos quando para ti
canta o cisne mais triste.
O pólen esvoaça no meu peito, junto às tuas
nuvens.
Esta é a canção do teu amor.
Esta é a voz onde vive a tua canção.
As tuas lágrimas passam pela minha terra
a caminho do mar.


José Agostinho Baptista

Imagens: Christian Schloe






sábado, 4 de abril de 2015

SANTA E FELIZ PÁSCOA






" Peçamos ao Senhor que toda a nossa vida cristã seja um luminoso testemunho da Sua misericórdia e do Seu amor."


Papa Francisco