quarta-feira, 28 de novembro de 2012

TENTEI DESENHAR OS TEUS OLHOS DE MAR





Tentei desenhar os teus olhos de mar,
para poder um dia saber ensinar a menina das ondas a sonhar...
Não encontrei lápis nem pincel,
só a cor andava por perto a voar...
Difícil tarefa,
esta de ensinar a contar,
cada lágrima do mar,
quando cada uma tem em seu tamanho o Universo a chorar...
Nuvem, mar ou rio é tudo o mesmo verso...
Amar é cousa séria, de saberes antigos, mistérios que não se
ensinam, porque o sentir não é ter, mas dar.
Só te sei ensinar a voar, isso é cousa simples, não é preciso
inventar, basta ir com o Ver, sentir a brisa a bater
e Ser...
Só te peço que não fiques, ficar estraga tudo,
até o sonhar.
Mesmo que fiques aí a olhar,
vai,
mesmo que seja pelo mar...

Almaro

Imagens google







segunda-feira, 26 de novembro de 2012





Salvador Dali



" Sei que já vi borboletas voarem faltando um bocado da asa e rosas incríveis desabrocharem num copo com água: e é disso que me nutro para acreditar que a meteorologia nem sempre está certa e que dias tão cinzentos podem ser prefácios de noites com sol..."


Marla de Queiroz 





 Kayjensen

domingo, 18 de novembro de 2012

O VENTO




 O vento


Na palma do vento
poso a fronte. Nele confio.
A quem confiaria senão a ele
este rude labor?

Abandono-me à tormenta
( lumes mastros
gaivotas do mar próximo).

Enreda-me a noite.
Mas dele são os dedos leves
que me fecham os olhos. E é manhã.


Dora Ferreira da Silva

Imagens: Google







 




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O OLHAR





O olhar

É dentro do olhar que principia
essa penumbra, que expulsando o dia,
pouco a pouco enevoa tudo em volta
e onde era luz semeia escuridão.

E é dentro do olhar que a solidão
origina a tristeza e a revolta.
Mas é também por dentro do olhar
que a manhã se ergue nua e anda à solta
e brilha intenso o verde-azul do mar.

Torquato da Luz





sábado, 10 de novembro de 2012

DE PAZ E DE GUERRA




De paz e de guerra


Na mão serena que num gesto de onda
Em estátua musical o ar modela.

Na mão torcida que num frio de gelo
A parede do tempo em fundos gritos risca.

Na mão de febre que num suor se chama
Em cinzas vai  tornando quanto toca.

Na mão de seda que num afago de asa
Faz abrir os sonhos como fontes de água.

Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,
Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa.

José Saramago

Imagens: Google





 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

EU TRAGO A SABEDORIA DOS QUE ESCUTARAM SENTADOS


Imagem: Murat Korkmaz




Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados

Eu sou todas as estradas que nunca percorreste,
sou todos aqueles com quem nunca viveste,
sou a alfazema, o açafrão e as estepes do norte.
Eu sou a neve e também a espuma.
Sou o negro do carvão e o amarelo do trigo.
Trago um diamante no nariz e ouro na minha orelha.
Eu sou a paixão e também a morte.

Sou o canto profundo e a brisa quente da manhã.
Sou o desejo que te consome de madrugada
e o desejo que te desperta a meio da tarde.
Eu sou aquele que nunca pára.

Eu trago a sabedoria dos que escutaram sentados.
Trago o calor do mediterrâneo.
Eu sou a mistura das línguas e a língua universal,
molhada, intensa, imperceptível, perturbadora.
Eu sou o negro, mas também o calor do fogo.
Eu sou a suavidade de um pé descalço,
a pisar a terra macia,
sou a força de um salto a enfrentar-se na madeira.

Tenho muitos anos, muitas vidas.
E não sou tempo nenhum.


Alexandra Quadros







 
Imagem: Google





quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SÓ UM ME RESTA






Três quartos da noite já se foram
e só um me resta.
As estrelas seguiram seu caminho
a madrugada vem ao meu encontro com
passos de silêncio.
Quando o leite do dia for derramado
intensa será a luz
para estes olhos
que só penumbra alcançaram.



Marina Colasanti

Imagens : Google