segunda-feira, 14 de julho de 2008

MANIFESTO PELA PAIXÃO


Anda o Mundo triste, falta-lhe o brilho das horas completas. Andam caladas as vozes do coração, os rios já não transbordam, há um mau feitio que não nos deixa ser felizes.
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Semeai os sentimentos por ruas e praças, por bancos de jardins a horas impróprias. Sede capazes de gritar os segredos da vossa paixão. Sede capazes de enfrentar os gestos bem comportados da moral e em cada beijo louco derramar a vossa indiferença por quem vos excomunga.

É preciso ousar. É urgente evitar o contágio do olho avulso que se espreguiça para chegar à intimidade dos outros. Devia ser proibido plantar relva que não servisse para cultivar a paixão, rebolar os corpos ou enfeitiçar as estrelas. É mais belo um beijo ardente no "Jardim Botânico" que um rubi da Rainha da Inglaterra.

Saltai o muro do "Portugal dos Pequenitos" e recuperai a memória da vossa infância, da vossa ingenuidade, dos bibes e balões, dos passeios ao fim da tarde com o espanto todo deste mundo onde há um lamento universal, um choro envergonhado que tem as marcas do desencanto.

Roubai flores em nome dos pecados do coração, onde a vida se condensa; ofereçam-nas. Escrevam também nas paredes onde habitam as vossas estrelas e denunciem que ali começa e acaba o sentido das vossas vidas, talvez, da vossa existência. Os sentimentos não conhecem a vergonha, não há algemas para os impulsos do coração.

Todos somos poetas quando a inquietação é um labirinto a quem nos entregamos para salvar o outro lado que a vida nos consumiu.

Não escondam a energia dos vossos desejos. Soltem-se! Molhem os pés no Mondego fora de horas e depois brinquem às escondidas, representem a própria paixão nesta alegoria, onde os elementos do princípio do mundo se adoçam.

Regressem ao imaginário da vossa adolescência e escrevam em papelinhos mensagens de esperança, recados de amor para um príncipe encantado e metam tudo isso numa garrafa que saiba o caminho para a felicidade. As correntes fortes do encantamento ajudam a descobrir as esquinas do labirinto!

À paixão o que é da paixão.

António Vilhena

excertos de "A eterna paixão de nunca estar contente"

6 comentários:

  1. "As correntes fortes do encantamento ajudam a descobrir as esquinas do labirinto!" - então, nos novelos da vida descubrem-se as pontas que tecem a nossa existência.

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  2. Excelente escolha. Belissimo texto.
    Parabens minha amiga
    Beijinhos ternurentos

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  3. para quê falar-te ao ouvido amo-te
    vou gritá-lo ao mundo para que todos oiçam
    abraçar-te na praça para que todos saibam
    mas sei que será uma forma de perder-te


    um beijo

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  4. Li cada palavra cheia de emoção e me revi numa tarde de sol de Primavera a passear com o meu rapaz e a namorada pelo Jardim Botânico em Coimbra. Ele era guia do Jardim e fez-me uma surpresa. Levou-me até uma árvore que dizia Eugenia Myrtacea, que é a Pitangueira. Há muitas formas de gritar o amor e muitas maneiras de senti-lo.

    Obrigada por um texto tão lindo.

    beijos do lado de cá.

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  5. Oi minha querida e estimada amiga.

    Que lindo texto.
    Grite seu amor aos ventos e deixe cair as vozes num campo minado de flores.
    Beijos e um bom fim de semanan com muitas estrelinhas em seus caminhos.

    Obrigado por sua visita ao meu blog.

    Regina coeli.

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  6. " Anda o Mundo triste, falta-lhe o brilho das horas completas. Andam caladas as vozes do coração..."

    Sim, é urgente ousar e sair deste sentimento, desta anestesia, desta zanga com a vida...

    Abraço de peito aberto

    BIA

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"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” disse Antoine de Saint-Exupéry.

Grata pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dar-me um pouco do seu tempo, deixando um pouco de si através da sua mensagem.