terça-feira, 27 de dezembro de 2011

DEIXEM-ME




Deixem-me ser a alegria da magnólia no estertor do inverno. Assim rosada, virada aos céus, livre de folhas que só depois virão. Depois de mim, do meu esplendor, da branca solidão, depois do amor guardado na raiz, do suor da festa dos rapazes, do riso da festa das raparigas, da partida demorada dos velhos, da partida súbita dos novos, dos livros duas vezes lidos, do grito dos pobres na aresta da fome. Deixem-me estar, plantada à beira vida, solene e intensa, perfumada e limpa, sem outro anseio que o regresso das canções em bando, da gravidez aveludada das mulheres, da generosidade dos insectos em novas primaveras. Deixem-me. Eu sou assim...


Licínia Quitério

Imagem: Daisy Wilson