Imagem: Bimago
Numa voz muda, interior, chama.
Chamachamachama
e ninguém ouve.
Nem uma estrela se acende.
No fio da vida que (a)prende
- gume de navalha -
o equilíbrio é difícil
sem o favor da chama
ou do sopro duma acendalha.
Meio louca sem ter perdido a razão,
esgueira-se, acende e apaga, reanima.
Dissimula, finge que não sente.
Simula um rito.
Em cima de si trovejam relâmpagos vindos do mar.
Ao leme desnorteia. No chão do barco
sinais de cristais de sal e maresias
temperadas com salva e limão
são o travo da inquietude dos dias.
Dias alongados, sofridos.
Ais de silêncio gravados no tronco
ensaiam libertar-se dos ramos
e dançam no voo de folhas de outono.
Dias alongados e um querer do coração
- morrer de pé como as árvores -
sem um grito.
Maripa
Imagem: José Lopes