domingo, 29 de setembro de 2013

ESPERA-ME





Espera-me. Não vás muito depressa que já não consigo acertar o meu passo com o teu. Sabes, por trás daqueles muros altos, aqueles onde as heras fazem ninho, moram muitos segredos. Em tempos idos fui a princesa daquele sítio, o sítio do poema. Não cresciam por lá ervas daninhas e nem sequer às sombras era permitida entrada.
Dá-me a tua mão, sente como a minha está fria. Noutros outonos ainda as sentirias quentes e macias, mas o tempo que enferruja os portões não se compadece. Até as flores que davam vida aos canteiros estão a secar. Tudo vai renascer! Não, não entristeças, tudo tem o seu tempo. Olha a beleza das folhas das árvores, não te parecem pássaros a voar quando começa a ventar? E o brilho da chuva no empedrado da calçada? Quando eu era a princesa dos pés descalços gostava de sentir a relva molhada... e se havia brincos-de-princesa a resistir nos canteiros eu enfeitava-me vaidosa e virava o rosto ao céu para me deixar regar. Tinha vezes que até o arco-íris comparecia para me abençoar. Grata, toda eu resplandecia de inocentes prazeres!

Esquece. Eu aqui no meu inverno a relembrar primaveras... Agora é olhar em frente e esperar que o finito dos outonos aconteça. 

Espera-me.


Maripa

Imagens: Google