sexta-feira, 31 de agosto de 2012

QUE CHOVA







Que chova. Abundantemente, chova.
Que o mar receba as lágrimas do céu
e lhes ensine o sal e a saudade.
Que a chuva alumbre as dores
dos penhascos e os livre da sede
e os agrida e os comova e os lave.
Que chegue a noite e a chuva dance
nos faróis, no vento, nas grutas
onde dorme o pó e a escuridão.
Que chova sobre o pó e a demência
e as mãos dos homens sejam concha
e reaprendam o saber das águas
vivas, livres, circulares, eternas.



Licínia Quitério












Imagens: Kathryn Trotter