descalça na madrugada
quem escutará
o silêncio dos meus lábios
os meus passos
perdidos no rumor das águas e das pedras?
o palpitar dos meus olhos enxutos
os suspiros lacrimosos do meu ventre?
quem escutará o meu olhar
descalço na madrugada?
tomo a vereda de um ciclo antigo
a profecia gentílica das tuas mãos em mim
e digo ainda
admirável o tempo
que esculpe o mármore
e não apaga
o trinar dos pássaros
o vermelho dos seus bicos
o azul dos rios
os trilhos íngremes das encostas
nem dos meus olhos
a memória dos lírios e das rosas defronte à vida
quem [me] escutará
quando chegar
se de ti sei dos bosques incendiados
e o feitiço de amar teus mares de sete partidas...
Mel de Carvalho
Imagens: Google
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