Alguém joga xadrez com minha vida,
alguém me borda do avesso,
alguém maneja os cordéis.
Alguém me inventa e desinventa
como quer:
talvez seja esta minha condição.
Alguém dirige o teatro de sombras
no qual fui ré sentenciada.
Finjo entender de tudo:
ando de um lado para o outro,
faço gestos com as mãos,
cuspo as sementes do fruto
entalado na garganta
com um grito: alguém aí pode me ouvir?
Ninguém reage, ninguém tenta aplaudir:
nesse reino todos usam disfarces,
menos a solidão.
Lya Luft
Imagens: Google