sábado, 12 de outubro de 2013

HÁ UMA VOZ A CHAMAR POR MIM







Há uma voz dentro das sombras da noite
a chamar por mim.
Uma voz a atravessar o silêncio
e a sussurrar repetidamente
uma frase, uma pequena frase
densa e subtil.

Desencantadamente
ouço a maré negra das palavras
que ondulam roucas e sem brilho.

Já perdi a memória aos dias brancos.

Agora, seguro o instante junto ao peito.
O instante intemporal é quase,
quase sempre [im]perfeito.

No turbilhão dos instantes, sonho...

Sonho
que enquanto das nuvens se desprendem
chuvas de corações, de rosas, 
de pássaros azuis, 
eu,
com o vagar dos sem tempo,
amontoo, pedra sobre pedra, 
os sentires e os sabores 
da passagem até ao instante final.

Já não sei onde estou...perdi-me de mim.

Se me encontrar
vou erguer uma cabana
no alto da minha pequenez
para poder enxergar o mar...

Maripa

Imagens: Paul David Bond