domingo, 19 de julho de 2020

PARA QUE HAJA LUZ LÁ FORA


Foto  de Andreas Schrder


PARA QUE HAJA LUZ LÁ FORA

À sacralidade da natureza nada estremece:
O canto do pássaro
O assombro da rosa fúcsia
O coração da natureza -
Pura matéria das estrelas

Nós somos enxertados
Pelo sopro de dois anjos
O anjo do bem - descido das alturas
O anjo do mal - que veio a galope do desconhecido

Qual deles está amalgamado ao teu ser?

Amor se reconhece no ato
O ódio é este infiltrado
Via fatos, pessoas, eventos
O ódio é multifacetado - enganoso

O amor é como um menino
Livre e nu
Correndo de peito aberto

Gosto das pessoas eletrizadas
São as que amam
As que odeiam são contidas
Escondem sob a pele a farpa
As pessoas que odeiam
Voltam-se para dentro de si
Feito criptas

As que amam saem ao luar
Ao vento, ao destino

Invejo pássaros, rosas, rios e vento
Por saber que a sacralidade da natureza
Não é atingida pela onda
Esta que ora chega

Como chega a tantos lugares
De tempos em tempos
Esta que persegue e carimba
Segrega e mata

Quando encontrarem nossos ossos
Eles serão leves
Serão como somos hoje:
Sol, liberdade e Poesia

Ninguém saberá quem odiou
E quem foi odiado
A mesma ossatura humana
Sem distinção
O negro, a mulher livre,
O mendigo ou cada poeta
Nossa ossatura tal e qual
A dos que –hoje – se conclamam deuses
E dizem que são escolhidos
E acham que podem
Com seus dedos de ódio
Brincar de: “uni duni tê o escolhido foi você”
Virarão pó e ossos e igualdade
- Enfim -

Resta dobrar de encontro ao coração
O estrondo do mundo
Para caber no peito
O quão grande é
E foi tudo

A esplendorosa vida
A delicada vida
A orgástica vida

Esta que dançou em minha pele
Nadou no meu sangue
E espera, em paz, meio à natureza,
Que ignora a podridão

Lembrar o último beijo
O verso último que brotou ainda agora
Ter a certeza de que ainda faltam séculos
Para que haja luz lá fora


Bárbara Lia


Gif do Pinterest