Foto de Andreas Schrder
PARA QUE HAJA LUZ LÁ FORA
À sacralidade da natureza
nada estremece:
O canto do pássaro
O assombro da rosa fúcsia
O coração da natureza -
Pura matéria das estrelas
Nós somos enxertados
Pelo sopro de dois anjos
O anjo do bem - descido das alturas
O anjo do mal - que veio a
galope do desconhecido
Qual deles está amalgamado
ao teu ser?
Amor se reconhece no ato
O ódio é este infiltrado
Via fatos, pessoas, eventos
O ódio é multifacetado -
enganoso
O amor é como um menino
Livre e nu
Correndo de peito aberto
Gosto das pessoas
eletrizadas
São as que amam
As que odeiam são contidas
Escondem sob a pele a farpa
As pessoas que odeiam
Voltam-se para dentro de si
Feito criptas
As que amam saem ao luar
Ao vento, ao destino
Invejo pássaros, rosas, rios
e vento
Por saber que a sacralidade
da natureza
Não é atingida pela onda
Esta que ora chega
Como chega a tantos lugares
De tempos em tempos
Esta que persegue e carimba
Segrega e mata
Quando encontrarem nossos
ossos
Eles serão leves
Serão como somos hoje:
Sol, liberdade e Poesia
Ninguém saberá quem odiou
E quem foi odiado
A mesma ossatura humana
Sem distinção
O negro, a mulher livre,
O mendigo ou cada poeta
Nossa ossatura tal e qual
A dos que –hoje – se
conclamam deuses
E dizem que são escolhidos
E acham que podem
Com seus dedos de ódio
Brincar de: “uni duni tê o
escolhido foi você”
Virarão pó e ossos e
igualdade
- Enfim -
Resta dobrar de encontro ao
coração
O estrondo do mundo
Para caber no peito
O quão grande é
E foi tudo
A esplendorosa vida
A delicada vida
A orgástica vida
Esta que dançou em minha
pele
Nadou no meu sangue
E espera, em paz, meio à
natureza,
Que ignora a podridão
Lembrar o último beijo
O verso último que brotou
ainda agora
Ter a certeza de que ainda
faltam séculos
Para que haja luz lá fora
Bárbara Lia
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