terça-feira, 1 de junho de 2021

CEGA, SECRETA E DOCE COMO ESTRELAS

 




 

Entre o terror e a noite caminhei

Não em redor das coisas mas subindo

Através do calor das suas veias

Não em redor das coisas mas morrendo

Transfigurada em tudo quanto amei.

 

Entre o luar e a sombra caminhei:

Era ali a minha alma, cada flor

- cega, secreta e doce como estrelas -

Quando a tocava nela me tornei.

 

E as árvores abriram os seus ramos

Os seus ramos enormes e convexos

E no estranho brilhar dos seus reflexos

Oscilavam sinais, quebrados ecos

Que no silêncio fantástico beijei.

 

 

   Sophia de Mello Breyner Andresen



                                                                                                Imagens: Pinterest