Mais longe, mais além
do vale das sombras, não distingo as madrugadas.
Os pássaros cantores voam para o alto
deixo de poder ver a beleza das rosas orvalho
e de olhos líquidos
entristeço por mim adentro.
Só o silêncio me abraça na muda escuridão.
Há o prenúncio de gaivotas amanhecidas
a pairar sobre o mar e a miragem rara
de peixes azuis a voar na crista das ondas.
Há uma maré viva de rendas de espuma
a lembrar carícias apetecidas na lua cheia.
Se o sol conseguisse transpassar
as brumas da memória plena de poeiras
de penas, espessas vagarosas [e]ternas.
Se os olhos desocupados do brilho de outrora
tivessem breves momentos de epifanias
ecoaria em mim o hino de uma nova aurora.
Mais alto, lá longe,
mais alto e mais além.
Maripa
Imagem de Audrey Kawasaki