Habito as distâncias
vivo dentro das distâncias
as tuas mãos, o teu rosto,
a claridade, que pelos teus
olhos…
o mundo, que pelos teus
olhos…
povoam as minhas distâncias.
Sabias?
Não. Ninguém sabe de ninguém
os mundos
que cada um habita.
Falo-te. Nunca te disse.
em longas falas digo-te
coisas tão particulares
de cada um de nós
de tudo em volta.
Das pequenas misérias
diárias
dos pequenos nadas
do livro que se leu.
Do que se sente
do que se pressente
do que dói.
Das coisas diárias…
Do reparar nas coisas. A
beleza das coisas.
Da harmonia do silêncio. A
harmonia.
Das raízes sinuosas do
afecto os inexplicáveis elos.
Tudo fica entre mim.
É quasi perfeito como
diálogo, o nosso.
Que me responderias?
Que me poderias responder
melhor
do que aquilo que te atribuo
como resposta?
Na minha distância espero-te
sabendo que não sabendo tu
que te espero
nunca virás.
É isso essencialmente a
distância.
Aí preparo em cada dia
especiais momentos
para a tua inexplicável
chegada.
Maria Keil,
Árvores de
domingo (Livros Horizonte, 1986)
Mural de Maria Keil na Av. Infante Santo em Lisboa
Maria Keil fez pintura, sobretudo retratos; publicidade; tentativas de renovação da talha em madeira para móveis e desenho de móveis; decoração de interiores; cartões para tapeçarias (Hotel Estoril Sol, TAP de Nova Iorque, Copenhaga, Madrid, Casino Estoril, etc.); pinturas murais a fresco; cenários e figurinos para bailados; selos; azulejos (Metropolitano de Lisboa, Av. Infante Santo, TAP de Paris e Nova Iorque, União Eléctrica Portuguesa, Casino de Vilamoura, Aeroporto de Luanda, etc.).
Ilustrou numerosas obras, nomeadamente livros para crianças.
Escreveu e ilustrou três livros para crianças e dois para adultos: O
pau-de-fileira, Os presentes e As três maçãs; Árvores de domingo e Anjos do
mal.