segunda-feira, 31 de março de 2008

OLHAR

Caminhava pela areia
junto ao mar
mas o olhar
seguia a rota dos navios...
Manuel Filipe

domingo, 30 de março de 2008

TRAGO DENTRO DE MIM

Um mar imenso
feito de vagas tristes
e sonhos vagos.

O horizonte é uma manhã
que eu quis minha para eu ser eu.

E para porto de abrigo escolhi uma tarde
que soubesse chorar a morte do sol.

José Rui Teixeira

sábado, 29 de março de 2008

É DENTRO DA CABEÇA


Art print Leonard da Vinci




É dentro da cabeça,
lá dentro,
que o tempo nos consome
e nos faz falta.

...

É dentro da cabeça,
cá dentro,
que nos dói...
Neste intensamente breve
instante
que é o tempo que nos cabe.



A. Mega Ferreira

sexta-feira, 28 de março de 2008

FOLHAS DE HAIKAI

quadro de Paul Collomb


Deve ser isto a Primavera:
uma colina embrulhada
na penumbra da manhã.
Matsuo Basho
Cores alternadas,
chega a Primavera,
trazendo perfumes.
F. Azevedo
Como a rosa desabrochada
a Primavera é sensual
serena e perfumada.
H. Pedro
Brisa perfumada
horizonte colorido-
estação das flores.
Vera Vilela

quinta-feira, 27 de março de 2008

PELO SONHO...


Pelo sonho é que vivemos
manhãs manchadas de arco-íris,
tardes enfeitadas de flores,
noites polvilhdas de luar,
madrugadas pintadas de mil cores.

Mas a vida não é só sonho...

Com a realidade vivemos
horas maiores de tristeza e dor,
horas menores de amor e bem-querer,
dias de gigante adamastor,
dias de ganhar
e dias de perder.

Pelo sonho é que vivemos...

Maripa

terça-feira, 25 de março de 2008

ASSIM NASCEU A ALEGRIA

Assim nasceu a alegria

Contando de um outro jeito o conto de Ruben Alves

Eis a história de uma florzinha que ao nascer, cortou uma das suas pétalas num espinho. Como a pétala partida não doía e, além de macia, era a sua amiga mais íntima, a florzinha não se preocupou com isso e vivia feliz, muito feliz...

Contudo, certo dia, começou a perceber que as outras flores a olhavam com grandes olhos, olhos de espanto! E foi nesse momento que notou que era um pouquinho diferente das outras flores.

Os dias foram passando e ela foi ficando triste, cada vez mais triste e o jardim ia perdendo o viço que tinha antes. Ela não estava triste por causa da pétala partida. Isso não a incomodava nada. Estava triste pela forma como as outras flores olhavam para ela.

E foi por causa de tudo isso que a pequena flor começou a chorar. Chorou tanto, mas tanto... que a terra molhada, já quase alagada, ao perceber que não aguentava nem mais uma lágrima, começou a ficar preocupada e perguntou:

- Porque brota tanta água desses pequeninos olhos? - perguntou à florzinha. Mas a florzinha continuava a chorar...

Assim, a terra decidiu pedir socorro à sua amiga árvore e contou quanto a florzinha chorava. E a árvore contou aos pássaros, seus companheiros. E os pássaros voaram, voaram... e contaram às nuvens sonhadoras. E as nuvens cochicharam aos ouvidos dos anjos que brincavam no céu. E os anjos, os melhores amigos das nuvens, juntaram-se e contaram a Deus. E Deus chorou como a florzinha chorava...Não de tristeza pela pétala partida da florzinha, mas pela indelicadeza e falta de compaixão das outras flores.

E a partir desse instante, o choro da florzinha transformou-se em chuva, a chuva tornou-se rio e o rio num imenso mar.

Os rios transformaram-se na casa dos peixes mais pequenos, que adoraram a ideia de viver em água doce. Os mares abarcaram os peixes maiores, bem maiores... Eles, por sua vez, gostaram imenso de mergulhar nas águas salgadas. Costumavam dizer que, quando fossem pescados, já estavam temperados...

Num pequeno intervalo do choro, a florzinha abriu os olhos e ficou admirada com todo o reboliço à sua volta. Não sabia que era tão querida pela Natureza.

Naquele momento, a sua tristeza começou a transformar-se em algo estranho. Era uma espécie de "cócega" a serpentear pelo corpo, um tremor que ia e vinha e que, assim que chegou ao coração, o fez bater mais forte. A flor sentiu a boca repuxar-se levemente para cima como que delineando um riso leve.

E ao sorrir pela primeira vez, um delicioso perfume apoderou-se do seu corpo e alastrou pelas entranhas da Natureza que nunca mais conseguiu viver sem ele. E esse perfume chamou muitos, muitos animaizinhos...

Vieram as abelhas, os beija-flores, as borboletas, as crianças... e um a um começou a cheirar a florzinha que sabia sorrir e que tinha um delicioso perfume que parecia sair exactamente da pétala partida.

- E o que aconteceu às outras flores da história?

- Ah, sabes porque é que as outras flores, belas mas infelizes, não tinham perfume? Porque não sabiam sorrir. O perfume é o sorriso da flor.

Essa é a história da florzinha que aprendeu a sorrir e que recebeu de presente o delicioso perfume que iria permanecer com ela e com todas as outras que viessem depois dela, desde que soubessem sorrir...

E quem não acreditar neste conto que acabo de contar de uma outra maneira, que faça o meu sorriso congelar ao primeiro ar que por aqui passar.

adaptado

Heleida Nobrega, 2007

segunda-feira, 24 de março de 2008

PINTEI-ME


Pintei-me
olhar poisado para além do algures
sorriso mel à flor da pele.

Mente irrequieta, sempre inquieta,
pensamentos tagarelas,
pensamentos brancos.

Sonhos tantos...

Sobrevoando o mar,
olhando o sol que se dilui
vi a gaivota peregrina
que desejei ser
e nunca fui...

Maripa

domingo, 23 de março de 2008

FELIZ PÁSCOA


FELIZ PÁSCOA


sábado, 22 de março de 2008

A TEMPESTADE DO DESTINO

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu.Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, megulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.

E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa.Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami (Kafka à Beira-Mar)


sexta-feira, 21 de março de 2008

ENTÃO JESUS...

El Cristo de Salvador Dali, 1951
Art Gallery, Glasgow

...Então Jesus, vagarosamente, voltou-se para aquele mundo duro e revoltoso que o condenava; e nos seus refulgentes olhos humedecidos, no fugitivo tremor dos seus lábios, só transpareceu nesse instante uma mágoa misericordiosa pela opaca inconsciência dos homens, que assim empurravam para a morte o melhor amigo dos homens...

Eça de Queiroz ( A Relíquia)


quinta-feira, 20 de março de 2008

GLÓRIA

Quadro de Carl Larsson, Primavera, 1907

Depois do Inverno, morte figurada,
a Primavera, uma assunção de flores.
A vida
renascida
e celebrada
num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

Hoje começa a Primavera e é o Dia Mundial da Poesia.

ABRIGO

Abrigo-me de ti
de mim não sei
há dias em que fujo
e que me evado

Há horas em que a raiva
não sequei
nem a inveja rasguei
ou a desfaço

Há dias em que nego
e outros onde nasço

Há dias de fogo
e outros tão rasgados

Aqueles onde habito com tantos
dias vagos.

Maria Teresa Horta


quarta-feira, 19 de março de 2008

OS DEGRAUS



Não desças os degraus do sonho
para não despertar os monstros.
Não subas aos sotãos - onde
os deuses, por trás das suas máscaras,
ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mario Quintana

terça-feira, 18 de março de 2008

PRECISO DE VENTO...


Solto as amarras do meu veleiro
e parto. Guio-me pelas estrelas,
vou em busca do mar da tranquilidade.
Levo comigo bagagens duma vida,
retratos amarelecidos pelo tempo,
recordações sem idade.

A brisa afaga-me o rosto
sulcado de rugas com história.
Salpicos salgados refrescam
a já cansada memória.

Memórias de outras águas,
outros sóis,
outras luas,
memórias de outras mágoas.

Tempestades teimaram sempre em perseguir-me,
fazendo-me velejar em mares tumultuosos.

No meu anoitecer, mão dada com o crepúsculo,
embalada pelas ondas, navego
navego ao encontro do mar da tranquilidade.

Deixo-me levar pelo sono e pelo sonho.

Preciso de vento...

Maripa

UMA APRENDIZAGEM...



Contrariar as contariedades

Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.

Clarice Lispector in "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres"

segunda-feira, 17 de março de 2008

PENSAMENTO DOBRADO

Espero-te ainda no lugar dos mitos.

Para mim és água fresca em fim de tarde
folha de hortelã, barro molhado
e eu incêndio.

Antes era o fulgor das palavras impensadas.
Agora é calma muda reflectida.

Vejo-te por dentro das pálpebras
como se uma coluna grega se dobrasse
em graciosa vénia.
Quando te penso invento a perfeição.

Elipse

domingo, 16 de março de 2008

A NOITE CHEGA-ME


a noite chega-me irrequieta de cíclicos ventos, cintilam peixes pelas paredes do quarto
durmo sobre as águas e tenho medo
encolho-me no leito estreito, no fundo dele, onde o linho já não fulgura
queda a queda, voo

não consigo dormir com esta ferida
as máquinas sussurram, trepam pelas paredes, escancaram portas, invadem a casa,
ocupam os sonhos
sirenes, alarmes lancinantes, cremalheiras da noite ressoando no limite do corpo

levanto-me e saio para a rua
caminho na chuva adocicada da manhã, as pedras acendem-se por dentro, reconhecem-me
uma voz líquida arrasta-se no interior dos meus passos, ecoa pelos recantos ainda vivos do teu corpo

em ti acostam os barcos e a sombra dos grandes navios do mundo
vive o peixe, agitam-se algas e medusas de mil desejos
em ti decansam os pássaros chegados de outras rotas
secam as redes, põe-se o sol
em ti se abandona a ressaca das ondas e o sal dos meus olhos
as árvores inclinadas, os frutos e as dunas
em ti pernoita a seiva cansada de palavras, o suco das ervas e o açúcar transparente das camarinhas
em ti cresce o precioso silêncio, as ostras doentes e as pérolas dos mares sem rumo
em ti se perdem os ventos, a solidão do mar e este demorado lamento

Al Berto (Livro IV)


sábado, 15 de março de 2008

KING´S SINGERS cantam "Deconstructing Johann"


KING'S SINGERS cantam " DECONSTRUCTING JOHANN"

sexta-feira, 14 de março de 2008

MAS QUE DIABO!...

....Clamamos por aí, em botequins e livros, "que o país é uma choldra". Mas que diabo! Porque é que não trabalhamos para o refundir, o refazer ao nosso gosto e pelo molde perfeito das nossas ideias?...


Eça de Queiroz ( Os Maias)

O MUNDO É GRANDE

O Mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O Mundo é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O Amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 12 de março de 2008

ÀS VEZES


Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido
Se a vida tivesse sido outra.

Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.


Sophia de Mello Breyner

MAR

Mar

Nunca coseguiu viver longe do mar.

A sua adolescência ficara cheia de dunas e de camarinhas, de falésias e águias, de tempestades, de nomes de barcos e de peixes; de aves e de luz coalhada à roda duma ilha.

Conhecera a ansiedade daqueles que, ao entardecer, olham meio cegos a vastidão incendiada do oceano - e ninguém sabe se esperam alguma coisa, alguma revelação, ou se estão ali sentados, apenas, para morrer.

Aprendera, também, que o mar, aquele mar - tarde ou cedo - só existiria dentro de si: como uma dor afiada, como um vestígio qualquer a que nos agarramos para suportar a melancólica travessia do mundo.

Depois, partiu para longe. E durante anos recordou, em sonhos, o mar avistado pela última vez ao fundo das ruas. Procurou-o sempre por onde andou, obsessivamente - mas nunca chegou a encontrá-lo.
...................................................................................
Al Berto (Livro quarto)


segunda-feira, 10 de março de 2008

AS ROSAS


Quando à noite desfolho e trinco as rosas
é como se prendesse entre os meus dentes
todo o luar das noites transparentes,
todo o fulgor das tardes luminosas,
o vento bailador das Primaveras,
a doçura amarga dos poentes,
e a exaltação de todas as esperas.



Sophia de Mello Breyner

CAMINHO...


"Caminho nestas praias entre a areia e a espuma.
A maré alta apagará as marcas dos meus pés e o vento dissipará a espuma, mas o mar e a praia permanecerão para sempre."

Khalil Gibran

domingo, 9 de março de 2008

MAR, MAR E MAR





Tu perguntas, e eu não sei, eu também não sei o que é o mar.

É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos ,brancos, dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil, afável , diáfano,
no entanto sem música.
É evidente que a minha mãe não me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.
Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura um beijo
entre as conchas transparentes.
Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios de espuma.
É sangue, sangue onde a luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.
Um pedaço de luz insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água
alisados pela brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 7 de março de 2008

INSCRIÇÃO SOBRE AS ONDAS


Mal fora iniciada a secreta viagem,
um deus me segredou que eu não iria só.

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
supondo ser a luz que o deus me segredou.


David Mourão Ferreira

quinta-feira, 6 de março de 2008

PROVÉRBIOS


Que o Sol traga energia todos os dias. Que a Lua ilumine seus sonhos à noite. Que a chuva leve embora as suas preocupações. Que a brisa sopre nova força na sua vida.

Provérbio apache


Quando falares, procura que as tuas palavras sejam melhores que o teu silêncio.

Provérbio indiano


Aquele que não duvida de nada, não sabe nada.

Provérbio grego

NINGUÉM GOSTA DA LUA !


Naquela noite, a Lua levantou-se mal disposta. Pôs as mãos na cintura e protestou:
- Chega! Já chega! Estou faaaaaaarta!!!!
Choramingou tanto,tanto, que acabou por acordar a Noite, que dormia.
-Que algazarra! - disse a Noite escura bocejando. - Se continuas com isso, em vez de ajudares as crianças a adormecer, vais acabar por acordá-las! Mas não estejas triste! O teu trabalho é muito agradável: vês como vai o mundo e se as crianças se portam bem, deitadas nas suas caminhas.
A Lua baixou os olhos tristemente.
- Estou farta de que não gostem de mim. Quando ele nasce, toda a gente olha para o Sol! Mas quando tu desces o teu grande casaco azul e eu apareço...
-Sim, o que acontece? - perguntou a Noite, encolhendo os ombros.
-Acontece que nem me dizem boa noite!
A Noite aclarou a garganta.
- Talvez os adultos te esqueçam, mas quando chegas, as crianças, essas, recebem-te como se fosses uma princesa! Quando chegas, elas exclamam: "Olha, é a Lua!"
- Oooooh....- suspirou a Lua, que, decididamente, naquela noite não tinha vontade de brilhar. - Nos dias que estou bem cheia, elas até me confundem com... com um candieiro!
E a Lua continuava a choramingar.
- Ninguém sabe como eu trabalho... As próprias crianças pensam que não sirvo para nada. Quando me desenham é mesmo ao cantinho da folha, e a dormir! Mas eu nunca durmo! Olho por elas enquanto dormem. Às vezes até lhes faço uma festinha, mas elas só sentem uma comichãozinha na testa e não imaginam que sou eu!
A Noite ouvia atentamente.
- Também a mim me vêem sempre a dormir. Diz-se "Nasce o dia" e " Cai a noite" , como se eu caísse em cima do mundo. Mas não é verdade! Sou muitíssimo útil. Sem mim, as pessoas esgotariam as forças a correr ao longo do dia, sem parar nem um segundo. Graças a mim ( e a Noite inchou o peito), as pessoas recuperam energia durante a noite e podem tornar a brincar no dia seguinte!
- Não há ninguém como eu - realçou a Lua - para fazer crescer as flores, as sementes e também as crianças! Eu protejo-as,embalo-as, e é durante o sono que elas crescem.
A Noite prosseguiu:
- É verdade. Nada pára durante a noite. Tudo continua, mas mais baixinho. O sangue que circula nas veias, as flores que continuam a respirar, as borboletas qu batem as asas...
A Lua abanou a sua grande cabeça redonda.
- Por que é que as crianças protestam no momento de irem para a cama? Fico tão triste! Por vezes, ouço-as dizer: "Não,mamã! Não quero ir para a cama!"
A Lua calou-se e a Noite calou-se também. Ambas sonhavam com um dia próximo, em que as crianças as desenhassem bem no meio da folha e diriam: "Que bom! São horas de ir para a cama! Depressa, mamã! Quero ouvir a minha amiga Lua cantar-me uma canção de embalar..."
E a Lua e a Noite sorriam no grande céu azul, pensando nesse dia feliz em que as crianças iriam saborear a doçura da Noite e o calor da Lua.

História publicada - http://historiasparaosmaispequeninos.wordpress.com

NINGUÉM...


"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás de passar para atravessar o rio da vida.

Ninguém, excepto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes e semideuses que se oferecerão para além do rio, mas isso custar-te-ia a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Aonde leva?
Não perguntes, segue-o!"

Nietzche

quarta-feira, 5 de março de 2008

FOLHAS DE HAIKAI


O HAIKAI (Haiku ou Haicai)



"O Haikai é mais que uma forma de poesia; é uma forma de ver o mundo. Cada Haikai capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida."

A. C. MISSIAS, poeta americano



O Haikai tem três versos curtos e expressa uma percepção da natureza. Capta o instantâneo, regista, enquadra, evoca. É uma forma de poesia breve. Exige uma atenção aos mais pequenos acontecimentos da Natureza.

Esta forma de poesia tornou-se popular no Japão durante a Idade Média. Apresenta 3 versos com, respectivamente, 5, 7, e 5 sílabas métricas japonesas ( a métrica japonesa assenta no elemento duração). No Ocidente, estas regras são mais difíceis de seguir, daí que o Haikai ocidental tenha adoptado formas mais livres.

Matsuo Basho (1644-1694) foi considerado o maior poeta japonês de Haikai.


Ao sol da manhã

uma gota de orvalho

precioso diamante.
Matsuo Basho


Já é Primavera

uma colina sem nome

sobe a névoa da manhã.
Matsuo Basho


terça-feira, 4 de março de 2008

EU SOU...


"Eu sou suficientemente artista para desenhar livremente na minha imaginação. Imaginação é mais importante que conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação dá volta ao mundo."

Albert Einstein

segunda-feira, 3 de março de 2008

PENSAMENTO


"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de Verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares,em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado."

W. Shakespeare

ONDE ESTÃO?


Onde estão
os lírios de vales escondidos,
as rosas do meu peito,
os salgueirais de rio manso,
as orquídeas de um sonho quase perfeito?


Onde estão
as papoilas de searas maduras,
as violetas do meu pranto,
as margaridas dos prados,
as campaínhas do meu canto?


Onde estão
os nenúfares do lago silencioso,
os cravos da minha liberdade,
as urzes de monte ensolarado,
as alfazemas da minha saudade?


E os trevos da minha sorte,
onde estão?


Pelo caminho
tantas raízes cortadas
tantas corolas desfeitas
tantas pétalas caídas
tantas folhas arrancadas...


Tanto perfume perdido!

Maripa

NO SILÊNCIO DOS OLHOS


Em que língua se diz, em que nação,
em que outra humanidade se aprendeu
a palavra que ordene a confusão
que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
cantos de ave pousada em altos ramos
dirão, em som, as coisas que , caladas,
no silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago

domingo, 2 de março de 2008

MAR


De todos os cantos do mundo
amo com um amor mais forte e mais profundo
aquela praia extasiada e nua,
onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Cheiro a terra as árvores e o vento
que a Primavera enche de perfumes
mas neles só quero e só procuro
a selvagem exalação das ondas
subindo para os astros como um grito puro.

Sophia de Mello Breyner

sábado, 1 de março de 2008

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Álem Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
e não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
é ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
e dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca