Tu perguntas, e eu não sei, eu também não sei o que é o mar.
É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta, quando é noite.
Os teus dentes, talvez os teus dentes,
miúdos ,brancos, dentes, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil, afável , diáfano,
no entanto sem música.
É evidente que a minha mãe não me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.
Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura um beijo
entre as conchas transparentes.
Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios de espuma.
É sangue, sangue onde a luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.
Um pedaço de luz insiste,
insiste e sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água
alisados pela brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.
Eugénio de Andrade
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"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” disse Antoine de Saint-Exupéry.
Grata pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dar-me um pouco do seu tempo, deixando um pouco de si através da sua mensagem.