terça-feira, 25 de setembro de 2012

ORAÇÃO PAGÃ






Vieste de manhã, meu amor. Logo de manhã.
Tão cedo, que a noite ainda adormecia.

Não deste tempo, sequer, a que te abrisse a porta.

Entraste
por onde entra o fumo e o nevoeiro.
Trazias os cabelos orvalhados,
e na boca 
aquele aroma fresco a hortelã.

Corremos juntos a acordar o dia
debruçando o nosso amor sobre a varanda.
O breve, o infinito, o todo verdadeiro
estava ali.

Nos corpos dados, unimos a alegria.
E assim rezámos uma oração pagã.




Amadeu Teles Marques

 Imagens: Willem Haenraets